Alemanha fecha suas últimas usinas nucleares
A Alemanha fechou, neste sábado (15), suas três últimas usinas nucleares, concluindo, assim, um processo de mais de 20 anos de eliminação gradual da energia atômica no país, um antigo compromisso às vezes incompreendido em um contexto de urgência climática e guerra na Ucrânia.
As usinas de Isar 2 (sudeste), Neckarwestheim (sudoeste) e Emsland (noroeste) foram desligadas da rede elétrica antes da meia-noite (hora local), como estava previsto, e a companhia de energia RWE qualificou o fechamento como "o fim de uma era", segundo um comunicado.
A maior economia da Europa inicia, desta forma, um novo capítulo energético, confrontada com o desafio de prescindir das energias fósseis, ao mesmo tempo em que gerencia a crise do gás, desencadeada pela guerra na Ucrânia.
O governo alemão concordou em fazer um adiamento de várias semanas em relação à data originalmente prevista, 31 de dezembro, para o desligamento, mas sem questionar virar a página deste tipo de energia no país.
"Os riscos ligados à energia nuclear são, definitivamente, não administráveis", disse a ministra do Meio Ambiente, Steffi Lemke, esta semana.
De fato, preocupam amplos setores da população e deram força ao movimento ambientalista.
Neste sábado, aos pés do Portão de Brandemburgo, em Berlim, a ONG Greenpeace organizou uma despedida do átomo, simbolizado pelos restos de um dinossauro derrotado pelo movimento antinuclear.
"A energia nuclear pertence à história", proclamou a ONG.
Em Munique, uma "festa pela saída da energia nuclear" reuniu algumas centenas de pessoas, conforme registrado pela AFPTV.
"Energia nuclear, obrigado", publicou neste sábado o jornal conservador FAZ, destacando os benefícios que, segundo a publicação, trouxe para a Alemanha.
- Processo longo -
Após uma primeira decisão de Berlim, no começo da década de 2000, de abandonar progressivamente a energia nuclear, a ex-chanceler Angela Merkel acelerou o processo após a catástrofe de Fukushima, em 2011, uma reviravolta política espetacular. Desde 2003, a Alemanha desligou 16 reatores.
A invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro de 2022, poderia ter colocado tudo em suspenso, porque a Alemanha, privada do gás russo, temia os piores cenários possíveis: do risco de fechar suas fábricas até ficar sem calefação.
No final, o inverno passou sem desabastecimento, e o gás russo foi substituído por outros fornecedores, embora alguns setores ainda questionem o abandono da energia atômica.
- "Erro estratégico" -
No entanto, o consenso em torno do abandono da energia nuclear desmoronou. Segundo uma pesquisa recente do canal público ARD, 59% dos entrevistados acham que abandonar a energia nuclear nesse contexto não seria uma boa ideia.
A Alemanha deveria "ampliar a oferta de energia, não restringi-la ainda mais", sob risco de desabastecimento e alta de preços, lamentou o presidente das Câmaras de Comércio alemãs, Peter Adrian, ao jornal Rheinische Post.
"É um erro estratégico em um ambiente geopolítico que continua tenso", disse Bijan Djir-Sarai, secretário-geral do partido liberal FDP, parceiro do governo de coalizão de Olaf Scholz e ambientalistas.
As três últimas usinas forneceram apenas 6% da energia produzida no país no ano passado, enquanto a energia nuclear respondia por 30,8% em 1997.
Em paralelo, o percentual de energias renováveis no total da produção aumentou para 46% em 2022, contra menos de 25% uma década antes.
"Depois de 20 anos de transição energética, as energias renováveis produzem agora cerca de uma vez e meia mais eletricidade do que a energia nuclear em seu pico na Alemanha", disse à AFP o diretor do centro de pesquisa Agora Energiewende, Simon Müller, especializado em transição energética.
A Alemanha prefere se concentrar em sua meta de cobrir 80% de suas necessidades de eletricidade com energia renovável até 2030 e fechar suas usinas de carvão até 2038.
O país tem que “pisar no acelerador” em matéria de energia eólica onshore, alerta Müller.
Segundo o chanceler alemão, Olaf Scholz, será necessário instalar de quatro a cinco aerogeradores por dia nos próximos anos para atender as necessidades.
F.Deloera--LGdM