Sobe para 36 número de mortos por ciclone 'fora do comum' no Rio Grande do Sul
Ao menos 36 pessoas morreram e outras nove permanecem desaparecidas no Rio Grande do Sul, na passagem de um ciclone devastador, segundo o último balanço divulgado nesta quarta-feira (6) pelas autoridades, que se preparam para novas chuvas torrenciais nas próximas horas.
Chuvas intensas e ventos fortes causaram destruição e deixaram localidades submersas, enquanto dezenas de socorristas tentavam chegar a áreas ilhadas, onde ainda havia milhares de pessoas isoladas.
Este é o mais recente de uma série de desastres climáticos que se sucederam nos últimos meses no Brasil, e o mais mortal do Rio Grande do Sul.
"Vimos comunidades totalmente submersas. É desolador, há muita destruição", disse o governador Eduardo Leite (PSDB) em coletiva de imprensa, logo depois de sobrevoar as áreas atingidas desde a madrugada de segunda-feira e visitar centros de abrigos, segundo uma nota.
Na quarta-feira à noite, as autoridades elevaram de 31 para 36 o balanço de mortos e reportaram nove desaparecidos.
As chuvas intensas e os ventos fortes afetaram no total 79 municípios e mais de 5.800 pessoas tiveram que deixar suas casas. No total, há mais de 56.000 pessoas afetadas.
É "um evento absolutamente fora do comum", afirmou o governador.
Os desfiles em ocasião do dia da Independência, nesta quinta-feira, foram suspensos e o governo decretou estado de calamidade no estado.
Os trabalhos de resgate continuavam em uma corrida contra o tempo, com aeronaves e barcos, nas regiões mais afastadas.
Leite se disse especialmente "preocupado" pela previsão de chuva para o fim do dia e amanhã. "O solo já está encharcado e os rios estão cheios", disse.
O Instituto de Meteorologia (Inmet) emitiu um alerta de "perigo" para a região sul do estado, com previsões de até 100mm de chuva por dia e ventos de até 100 km/h, possíveis cortes de energia, queda de árvores e inundações.
O ciclone originou-se de um "sistema de baixa pressão que gera instabilidade no oceano" e foi em direção "ao continente com chuvas e ventos torrenciais", explicou à AFP Francis Lacerda, pesquisadora do Laboratório de Mudança Climática do Instituto Agronômico de Pernambuco.
- "Destruiu tudo" -
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou uma comitiva liderada pelo ministro-chefe da Secretaria de Comunicação da Presidência da República, Paulo Pimenta (PT), para coordenar a ajuda do governo federal.
A cidade de Muçum, onde foram localizados 14 mortos, ficou parcialmente submersa.
Os destroços de casas destruídas pela força dos ventos e das águas jaziam sobre um chão de lama, conforme constatou um fotógrafo da AFP.
Uma ovelha apareceu pendurada sem vida sobre a fiação elétrica, conforme mostram vídeos em meios de comunicação e redes sociais.
A situação de emergência em Muçum e na cidade vizinha de Roca Sales obrigou as autoridades a recorrer a um caminhão frigorífico para transportar os corpos das vítimas.
"Ontem a água começou a baixar no final do dia. É uma coisa que assusta. Destruiu tudo. Roca Sales, hoje, não tem mais nada", disse o prefeito da cidade, Amilton Fontana, citado pelo site A Hora.
"A água veio muito rápido, não deu tempo de tirar nada, perdi tudo. Tinha um monte de gente gritando, pedindo socorro (...) Tem que começar do zero, não tem o que fazer", disse à AFP Paulo Roberto Neto Vargas, um vigilante, de 39 anos.
Entre os mortos pelo ciclone está uma mulher de 50 anos, que perdeu a vida na localidade de Lajeado ao cair em um rio depois que o cabo com o qual um socorrista tentava resgatá-la se rompeu.
"Os ciclones no Brasil não costumavam entrar muito no continente como é mais habitual no hemisfério norte, mas isso já está sendo mais frequente", explicou Lacerda.
"Esses eventos são extremos porque são intensificados pela quantidade de energia exacerbada pelo efeito estufa causado pelo ser humano", afirmou Lacerda.
Em junho, um ciclone deixou pelo menos 13 mortos também no Rio Grande do Sul, enquanto milhares de pessoas foram evacuadas ou perderam suas casas.
Em fevereiro passado, 65 pessoas morreram em deslizamentos provocados por chuvas recorde registadas em São Sebastião, destino turístico praiano a 200 km da cidade de São Paulo.
R.Espinoza--LGdM