Piquetes se espalham por Hollywood durante greve dos roteiristas
Piquetes cercaram as imediações dos estúdios em Los Angeles e Nova York nesta terça-feira (2), quando milhares de roteiristas deram início a uma greve para exigir melhores salários e condições de trabalho na era das plataformas de streaming.
Os programas de entrevistas noturnos de Jimmy Kimmel, Seth Myers e Stephen Colbert devem ser os primeiros sacrificados desta primeira paralisação do sindicato em quinze anos.
"Nós, roteiristas, não recebemos o suficiente", disse à AFP Louis Jones nos arredores da Netflix, em Los Angeles. "Trabalhamos longas horas e não vejo os direitos residuais nos episódios recorrentes na televisão", acrescentou. "Acho que queremos apenas um pouquinho mais do que nos ofereceram".
A greve, que poderia atrasar a produção de séries e filmes se perdurar, começou após o fracasso dos diálogos entre o sindicato de roteiristas dos Estados Unidos (WGA) e a Aliança de Produtores de Cinema e Televisão (AMPTP).
As respostas aos pedidos foram "totalmente insuficientes, dada a crise existencial que os roteiristas enfrentam", informou o WGA, acrescentando que a greve tinha começado.
A última vez que os roteiristas de Hollywood pararam de trabalhar foi em 2007, em uma greve que se estendeu por cem dias e custou 2 bilhões de dólares (R$ 3,5 bilhões em valores da época) à indústria do entretenimento.
Desta vez, os roteiristas exigem salários melhores e maior participação nos lucros gerados pelas reproduções nas plataformas de conteúdo, enquanto os estúdios afirmam que precisam reduzir custos devido às pressões econômicas.
Danielle Sanchez-Witzel, do WGA, disse que o sindicato acredita que os estúdios podem melhorar sua oferta.
"Tudo o que pedimos é menos de 2% do lucro que eles têm (...) pelo produto que nós criamos para eles", afirmou a escritora em um piquete nos arredores da Netflix.
Os apresentadores de 'talk shows' noturnos Stephen Colbert e Jimmy Fallon, ambos membros do sindicato, apoiaram os roteiristas.
Colbert chamou suas demandas de "razoáveis", enquanto Fallon expressou apoio à sua equipe. "Apoio meus escritores, temos muito pessoal que seria afetado por isto, mas eles devem ter um tratamento justo", indicou Fallon à AFP durante o Met Gala, em Nova York.
- Remuneração por reproduções no streaming -
Os roteiristas afirmam que seus salários estão estagnados ou desvalorizados pela inflação, enquanto seus empregadores lucram e aumentam os salários de seus executivos.
Além disso, alegam que nunca houve tantos roteiristas trabalhando pelo salário mínimo estabelecido pelos sindicatos e denunciam que as redes de televisão contratam menos pessoas para escrever séries cada vez mais curtas.
Quando as conversas naufragaram, na segunda-feira, o WGA acusou os estúdios de tentarem criar uma economia de contratos ocasionais, na qual ser roteirista se tornaria uma "profissão totalmente independente".
Segundo a AMPTP, a demanda do WGA de que os estúdios contratem um número determinado de roteiristas "por um período de tempo específico, sendo necessário ou não" é um dos principais pontos de divergência.
Outra controvérsia é como os roteiristas são pagos pelas reproduções nas plataformas de streaming, que em serviços como a Netflix costumam ficar disponíveis por anos.
Há décadas, os roteiristas cobram "direitos residuais" pela reutilização de suas obras, um percentual da receita dos estúdios por filme ou programa, ou uma tarifa fixa toda vez que um episódio é reproduzido.
Mas com a reprodução sob demanda nas plataformas, os roteiristas obtêm um pagamento anual fixo, mesmo que centenas de milhões de espectadores vejam os produtos.
O WGA pede uma reavaliação destes valores. Também quer discutir o impacto futuro da inteligência artificial na profissão de roteirista.
- "Acabar com o impasse" -
A AMPTP afirma que os "direitos residuais" pagos aos roteiristas alcançaram um recorde de 494 milhões de dólares em 2021 (cerca de 2,78 bilhões de reais em valores da época), contra 333 milhões dez anos antes (cerca de 620 milhões de reais em valores da época).
E negam que as dificuldades econômicas sejam um pretexto para não atender às reivindicações dos roteiristas.
"Você acredita que a Disney demitiria 7.000 pessoas por diversão?", questionou uma fonte próxima à AMPTP.
"Há uma única plataforma [de 'streaming'] que é lucrativa neste momento, e esta é a Netflix. A indústria cinematográfica também é um setor bastante competitivo", declarou.
Na segunda, os estúdios argumentaram que estão "dispostos a iniciar discussões com o WGA em um esforço para acabar com o impasse".
Mas a indústria teme um efeito dominó. Outros sindicatos de Hollywood expressaram solidariedade aos roteiristas, como o SAG-AFTRA, de atores, e o DGA, de diretores.
Ambos devem iniciar diálogos com os estúdios em meados do ano.
A.M. de Leon--LGdM