Yaku Pérez, o indígena que busca novamente a presidência do Equador
A ferrenha defesa contra a contaminação da água por mineradoras custou a prisão para Yaku Pérez. Afastando-se do que ele considera como "perseguição", agora o advogado indígena concorre novamente à presidência do Equador.
Em 2021, o defensor do meio ambiente de cabelos compridos e com a insígnia de seu povo amarrada no pescoço não chegou ao cargo por apenas 30 mil votos.
Em meio a acusações de suposta fraude, Guillermo Lasso acabou se elegendo presidente até 2025, embora o ex-banqueiro não terminerá seu mandato após dissolver o Congresso e convocar eleições antecipadas, que serão realizadas em 20 de agosto.
Entre os oito candidatos, está Pérez, indígena Kichwa do povo Kañari que em 2017 mudou seu nome de batismo, Carlos Ranulfo, para Yaku Sacha, que significa "Água de Monte".
No dia da eleição sua aposta será dobrada. O candidato de 54 anos é a favor da extração do petróleo do megadiverso subsolo Yasuní, na Amazônia, e da proibição da mineração no Chocó Andino, declarado reserva da biosfera pela Unesco, duas questões que serão decididas em consultas públicas simultaneamente ao processo eleitoral.
"Será uma mensagem ao mundo de que no Equador a vida é cuidada (...) e que temos autoridade ética para combater o aquecimento global", diz à AFP.
- Acabar com o "berço de criminosos" -
Autor de oito livros sobre Direito e Meio Ambiente, Pérez conta com o apoio dos partidos de esquerda, embora não tenha o respaldo do dividido Pachakutik, braço político do movimento indígena.
Sugerindo representar uma esquerda afastada do "autoritarismo", o advogado teve divergências com o ex-presidente socialista Rafael Correa (2007-2017), período em que foi preso quatro vezes.
A oposição, por sua vez, rejeita algumas de suas propostas, como o perdão de dívidas, por considerá-las um risco às finanças do país, assolado pela criminalidade e o tráfico de drogas.
Para ele, o Equador precisa de uma transformação profunda e, por isso, propõe combater a violência em duas frentes: com a força pública e com professores, médicos e empresas.
"Temos que acabar com a máquina que fabrica criminosos e essa máquina é um Estado falido (...) é a falta de educação, é o empobrecimento, essa crise que está nos levando a nos transformar em um berço de criminosos", afirma.
- "Pobreza absoluta" -
Filho de trabalhadores rurais, Pérez conhece a "pobreza absoluta". Quando tinha apenas cinco anos, caminhava por uma hora para buscar água.
A vida no campo marcou sua trajetória até ser presidente de Ecuarunari (2013-2019), confederação dos povos Kichwa, e prefeito (2019-2020) da província de Azuay (sul).
"Esse contato com a terra me deixou extremamente sensível", diz ele.
Viúvo há 13 anos, o candidato se emociona ao se dizer "semivivo" após a perda de Verónica, mãe de suas filhas Ñusta (princesa) e Asiri (sorriso), de 24 e 18 anos, respectivamente.
O desejo de se tornar uma "mãe perfeita" esbarrou no fato de não ter aprendido a pentear o cabelo das filhas, brinca, mas orgulha-se de dizer que elas "nunca hesitaram em ficar" ao seu lado, apesar de as avós solicitarem a guarda.
Pérez atualmente é casado com a jornalista franco-brasileira Manuela Picq, que enfrentou um processo de deportação mal-sucedido durante o governo Correa, após participar de um protesto.
Para mostrar que está pronto para ser presidente, o advogado indígena faz uma lista de todos os seus feitos.
"Não represento apenas os indígenas, represento ambientalistas, professores universitários, profissionais, porque sou advogado, os escritores e os artistas que tocam saxofone, os agricultores, porque sei manejar o arado, a picareta e a pá", conclui.
S.Ramos--LGdM