'Não há alternativa' ao ajuste fiscal na Argentina, diz Banco Mundial
As reformas do presidente argentino, Javier Milei, são "sensatas" desde que não deixem de lado os mais vulneráveis porque "não há alternativa" ao ajuste fiscal, declarou, em entrevista à AFP, William Maloney, economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe.
O governo do ultraliberal Milei executa um draconiano ajuste fiscal para alcançar este ano a meta de déficit zero nas finanças públicas.
O ajuste, que inclui forte redução dos gastos públicos, prevê privatizações e, inclusive, o fechamento de dependências do Estado, foi acompanhado de uma depreciação do peso, que pressionou ainda mais a inflação, que beira os 280% em 12 meses, embora com um claro freio no ritmo de aumento dos preços nos dois primeiros meses do ano.
Nas ruas, multiplicam-se os protestos de cidadãos que sentem como os ajustes afetam seu bolso.
Pergunta: O Banco Mundial continua apoiando o ajuste fiscal de Milei, apesar do custo social?
Resposta: "Sim, as reformas são sensatas", mas é preciso haver ajuda "para os mais vulneráveis".
"Penso que o equilíbrio fiscal é [o caminho] correto."
"É uma precondição para o crescimento e para qualquer sociedade ter estabilidade". "Não há alternativa."
"A Argentina tem ajustes fiscais de longa data que devem ser realizados. Isso é o que está impulsionando a inflação."
"A pergunta é como podemos conseguir o ajuste fiscal, enquanto apoiamos a população mais vulnerável do país, e o banco está atualmente em conversações precisamente sobre este tipo de mecanismo de apoio."
P: Como esta ajuda vai se concretizar?
R: "O banco está dialogando com o governo neste momento e estamos explorando formas de ajudar quanto à eficiência dos sistemas de proteção social e fortalecer programas de apoio para a alimentação e o emprego."
P: Quanto tempo estima que o ajuste vai durar?
R: "O tempo do ajuste depende muito da confiança que a população tiver de que será sustentável."
Além disso, depende "de quão rápido forem implementadas as políticas e a credibilidade", por isso "é importante que haja apoio da sociedade através do Congresso".
P: O presidente Milei previu dois anos de sacrifício. Acredita que seria melhor um ajuste de curta duração, inclusive pela resposta dos mercados?
R: Em geral, as medidas, quanto "mais rápidas [...] melhor".
P: O país poderia se tornar um caso de sucesso a partir de um ajuste fiscal ou lhe parece um disparate?
R: "Absolutamente. A Argentina tem talento, tem capital humano, tem muita indústria bem desenvolvida, tem um setor agro de primeira. Mas não há país no mundo que possa crescer com essa inflação e volatilidade."
"A Argentina tem que alcançar, como qualquer outro país, estabilidade macroeconômica" porque é "uma precondição para o crescimento sustentável".
M.Pacheco--LGdM