Ambientalista que lutava para fechar mineradora é enterrado em Honduras
O corpo do ambientalista Juan López, que estava na reta final de sua luta para fechar uma mina a céu aberto em Honduras, serão enterrados nesta segunda-feira (16), dois dias após ele ter sido assassinado.
Uma multidão acompanhou a família de López, que tinha 46 anos, em uma funerária no município de Tocoa, cerca de 220 km a nordeste de Tegucigalpa, onde o ambientalista foi baleado por pistoleiros ao sair de uma igreja católica no sábado.
A missa de corpo presente será realizada na igreja de San Isidro, em frente à praça de Tocoa, e, em seguida, os restos do ativista serão sepultados no Cemitério Municipal Novo.
O crime fez lembrar o caso da renomada ambientalista Berta Cáceres, assassinada em 2016 em Honduras, um dos países mais mortais para os ativistas ambientais no mundo, atrás apenas de Colômbia, Brasil e México, segundo a ONG Global Witness.
A presidente hondurenha, Xiomara Castro, exigiu "maior capacidade e atenção" das autoridades "para que este terrível crime seja esclarecido imediatamente".
- "Crime político" -
López, que deixou esposa e duas filhas menores de idade, era um firme opositor da exploração mineral a céu aberto pela empresa Los Pinares e denunciou danos na reserva florestal Botaderos, perto de Tocoa.
"Este é um crime político", afirmou o sacerdote chefe dos jesuítas em Honduras, Ismael Moreno, durante a missa de corpo presente.
"O crime político busca paralisar o povo", alertou, perguntando aos presentes se aceitariam "ficar com medo", enquanto respondiam que "não". "Juan López vive, a luta continua e continua", cantaram.
O chefe de investigação criminal da polícia, comissário Eduardo Turcios, prometeu que serão feitos esforços para "esclarecer o assassinato" cometido por "pistoleiros experientes" e esclareceu que "não há detidos" no momento.
"Achamos que houve um planejamento prévio para realizar essa execução da forma como foi feita", disse o chefe policial.
A advogada Rita Romero, do comitê do qual López fazia parte, explicou à AFP que a luta contra a mineradora está chegando ao fim.
"Los Pinares tem que se retirar (...), há um decreto que proíbe a concessão de um novo contrato na área protegida (...), o contrato de concessão expirou em janeiro" passado, afirmou.
- "Possíveis retaliações" -
A representante em Honduras do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Isabel Albaladejo, pediu que o crime seja investigado "considerando" as "possíveis retaliações" contra López "por suas denúncias contra o prefeito [de Tocoa] Adán Fúnez, a quem pediu sua renúncia por supostos vínculos com o crime organizado".
O ambientalista havia solicitado a renúncia de Fúnez, membro do partido governista Libre, depois que este apareceu em um vídeo, divulgado em 3 de setembro, negociando subornos com traficantes de drogas em 2013, desencadeando um escândalo no país.
Carlos Zelaya, irmão do ex-presidente deposto Manuel Zelaya (2006-2009), marido da presidente, também aparece na gravação.
Após reconhecer sua participação no encontro, Carlos renunciou aos cargos de deputado e secretário do Congresso.
López também era vereador do município de Tocoa pelo Libre.
A advogada Romero afirmou que "falar da mineradora é falar do prefeito; falamos de um casamento, a mineradora conseguiu chegar até onde chegou pela proteção do governo local".
Sobre o prefeito, o comissário Turcios afirmou que "todas as pessoas mencionadas serão investigadas" por diversos meios, redes sociais e denúncias diretas.
O ambientalista tinha medidas cautelares ordenadas pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) desde outubro de 2023.
- Sabia que corria perigo -
López falou em uma entrevista à AFP em novembro de 2021 sobre os riscos que enfrentam os ambientalistas em Honduras: "Quando você entra neste país para defender os bens comuns [...] você entra em choque com grandes interesses", disse.
"Se você sai de casa, sempre tem em mente que não sabe o que pode acontecer e se pode voltar para casa, e se pode voltar a ver a família", afirmou López na época.
O ambientalista também contou que alguém havia lhe alertado que ele sofreria o mesmo destino de Cáceres, assassinada a tiros em 2 de março de 2016, por se opor à construção de uma usina hidrelétrica no oeste do país.
O Conselho Cívico de Organizações Populares e Indígenas de Honduras, que teve Cáceres entre os fundadores, afirmou que as autoridades hondurenhas "são responsáveis por este novo assassinato por não garantirem a vida de Juan".
R.Espinoza--LGdM