Tensão e temor de surto social na França após morte de jovem baleado por policial
O governo da França fez um apelo nesta quarta-feira (28) por "calma" depois de uma noite de violência provocada pela morte de um jovem baleado pela polícia por não parar seu carro em uma operação de trânsito.
A morte de Nahel, de 17 anos, comoveu o país e foi condenada por autoridades, políticos e celebridades, como o presidente Emmanuel Macron e o astro do futebol Kylian Mbappé.
A Assembleia Nacional (Câmara Baixa) respeitou um minuto de silêncio.
Fontes policiais indicaram inicialmente que um agente abriu fogo quando o motorista tentou atropelar dois agentes na terça-feira, na região de Nanterre, a oeste de Paris.
Porém, um vídeo que circula nas redes sociais, verificado pela AFP, mostra o momento em que um agente aponta uma arma para o motorista e atira à queima-roupa quando ele acelera com o veículo. Na gravação é possível ouvir a frase "você vai tomar um tiro na cabeça", mas não está claro quem pronuncia as palavras.
A fuga do jovem terminou alguns metros adiante, quando o carro bateu contra um poste. A vítima faleceu pouco depois de ter sido atingido por um tiro no tórax.
O agente de 38 anos que atirou contra o jovem está sob custódia da polícia como parte da investigação de homicídio doloso por parte de um funcionário público, anunciou o Ministério Público.
"Nada, nada justifica a morte de um jovem", afirmou Macron.
O porta-voz do governo, Olivier Véran, pediu "calma" em um contexto de "emoção muito forte".
"As imagens sugerem que o procedimento da operação legal não foi respeitado", declarou a primeira-ministra Elisabeth Borne.
"A pena de morte não existe mais na França. Nenhum policial tem o direito de matar, exceto em caso de legítima defesa", tuitou o político de esquerda Jean-Luc Mélenchon.
"Estou sofrendo pela minha França. Uma situação inaceitável", tuitou o atacante Kylian Mbappé, do Paris Saint-Germain (PSG), que em 2020 também reagiu ao espancamento de policiais a um produtor musical negro, Michel Zecler, em Paris.
Essas declarações foram criticadas por um dos principais sindicatos policiais, Alliance, e por dirigentes da extrema direita.
Alliance considerou "inconcebível que o presidente da República, assim como alguns dirigentes políticos, artistas e outros desconsiderem a separação de poderes e a independência da Justiça condenando nossos colegas antes que se pronunciem".
A ex-candidata presidencial Marine Le Pen, líder do Reagrupamento Nacional (RN, extrema direita), denunciou uma reação "irresponsável" por parte de Macron.
- Temores de novos confrontos -
Após a morte de Nahel, a noite foi marcada por distúrbios na região de Paris, em particular em Nanterre, com mais de 40 carros incendiados, 31 pessoas detidas e 24 policiais levemente feridos.
"Nossa cidade acordou em choque, abalada, marcada e preocupada com esta onda de violência”, disse o prefeito da localidade, Patrick Jarry, que também fez um apelo por calma e pediu "justiça para Nahel".
As autoridades pretendem mobilizar 2.000 policiais na quarta-feira à noite para evitar novos distúrbios.
A mãe do adolescente convocou, em uma mensagem na rede social TikTok, uma passeata em homenagem a Nahel, na tarde de quinta-feira, perto do local da morte. "É uma revolta por meu filho".
Porém, a tragédia mais recente provocou uma onda de indignação. A França registrou 13 mortes em 2022 durante incidentes similares. Em meados de junho, um guineense foi morto perto de Angouleme (centro) por um tiro de um agente.
Em maio, vários países expressaram às Nações Unidas sua preocupação com a violência policial e a discriminação racial na França, durante uma avaliação periódica à qual se submetem a cada quatro anos os países da ONU.
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D.F. Felan--LGdM