Relações entre Itália e França voltam a ficar tensas devido à migração
O ministro das Relações Exteriores italiano, Antonio Tajani, cancelou uma visita a Paris nesta quinta-feira (4) depois que o ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, criticou a política migratória de Roma, desencadeando novas tensões bilaterais sobre essa disputa.
O ministro do Interior francês, Gérald Darmanin, disse em uma entrevista de rádio que a primeira-ministra italiana de extrema direita, Giorgia Meloni, é "incapaz de resolver os problemas de migração".
Darmanin culpa a Itália pelo grande fluxo de migrantes, principalmente menores, para a França. Suas declarações provocaram reação imediata do chanceler italiano, Antonio Tajani, que cancelou sua viagem à França e classificou as palavras de Darmanin como "inaceitáveis".
"Não vou viajar a Paris para o encontro agendado com a ministra [das Relações Exteriores, Catherine] Colonna", disse. "Este não é o espírito com o qual os desafios europeus comuns devem ser enfrentados", acrescentou.
Em uma tentativa de aliviar as tensões, Paris disse logo depois que esperava que a reunião entre os dois ministros pudesse ser remarcada "em breve". O encontro seria realizado na tarde desta quinta-feira.
"O governo francês deseja trabalhar com a Itália para enfrentar o desafio comum de aumentar rapidamente os fluxos migratórios", disse a chanceler francesa em comunicado.
As relações com a Itália "são baseadas no respeito mútuo entre os dois países e seus líderes", acrescentou.
"Só podemos ser bem-sucedidos e eficazes por meio de consultas e um diálogo sereno", continuou.
- Pressão migratória em alta -
Na entrevista de rádio, Darmanin disse que a Itália está no meio de uma "crise migratória muito séria" e comparou Meloni à líder de extrema-direita francesa Marine Le Pen.
"Meloni, [líder do] governo de extrema direita eleito pelos amigos de Marine Le Pen [líder da extrema direita na França], é incapaz de resolver os problemas de imigração para os quais foi eleita", declarou.
"Sim, há um fluxo de migrantes e em particular de menores" no sul da França, reconheceu o ministro do Interior, culpando a vizinha Itália.
Não é a primeira vez que o governo francês, liderado pelo presidente centrista Emmanuel Macron, entra em conflito com a Itália sobre a questão migratória.
Em novembro, Meloni se recusou a desembarcar os 230 migrantes resgatados pelo navio de bandeira francesa Ocean Viking, o que levou ao primeiro confronto entre os dois países.
Paris finalmente decidiu receber o navio humanitário, mas denunciou o comportamento "inaceitável" de Roma e suspendeu a transferência de 3.500 migrantes da Itália.
Meloni, por sua vez, qualificou a reação francesa de "agressiva" e "injustificada".
Desde então, as relações entre os dois países melhoraram. Macron até se encontrou com seu homólogo italiano em Bruxelas em março.
Mas a questão da migração continua sendo um tema difícil para o governo de Meloni, o mais direitista do país desde a Segunda Guerra Mundial. Seu partido, Irmãos da Itália, prometeu acabar com o desembarque de navios pertencentes a ONGs em seu território.
O número de migrantes que chegam à costa italiana, principalmente do norte da África, aumentou consideravelmente desde o início do ano.
Mais de 42.000 pessoas chegaram à Itália desde 1º de janeiro de 2023, quase quatro vezes mais do que no mesmo período de 2022, segundo o Ministério do Interior italiano.
A primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne, anunciou em abril que mobilizaria mais 150 policiais para lidar com "a crescente pressão migratória na fronteira com a Itália".
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S.Cisneros--LGdM