EUA se preparam para aumento iminente de imigrantes na fronteira
Os Estados Unidos faziam os últimos preparativos para a possível chegada de milhares de imigrantes a partir de sexta-feira (12), uma vez expirada uma norma ativada durante a pandemia, que tornou quase impossível solicitar asilo na fronteira com o México.
À espera de que o chamado Título 42 seja levantado, autoridades dos dois países participaram nesta terça-feira de uma videoconferência de mais de uma hora, para discutir temas como a crise migratória e o narcotráfico.
"Reafirmamos o compromisso de continuarmos trabalhando juntos em temas como a migração com dimensão humanista e o tráfico de drogas e armas, e, acima de tudo, na cooperação para o bem-estar dos povos mais pobres do nosso continente", tuitou o presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, após conversar com o colega americano, Joe Biden.
O aumento esperado do número de imigrantes deixaria ainda mais à mostra as divisões profundas nos Estados Unidos, país fundado sobre as promessas de segurança e refúgio, mas onde a preocupação com a imigração ilegal torna incerta a sua acolhida.
Muitos dos que conseguem escapar da crise econômica e política nos seus países já cruzaram a fronteira. Frustrados pela falta de opções legais, alguns se infiltraram na longa fronteira de 3.100 quilômetros que separa o país mais rico do mundo do seu vizinho do sul.
As cidades texanas de El Paso, Brownsville e Laredo declararam estado de emergência e lidam como podem com centenas de pessoas, a maioria da América Latina, e outras da China, Rússia e Turquia.
Em El Paso, alguns migrantes dormem nas ruas, se protegem do sol com mantas ou descansam sobre papelões. Menores imundos pedem esmolas.
O prefeito da cidade, Oscar Leeser, advertiu que seus oficiais se preparavam para a chegada de muitos mais na sexta-feira, após uma visita recente à cidade mexicana de Ciudad Juárez. "Na rua, calculamos (que havia) entre 8.000 e 10.000 pessoas", disse.
- Título 42 -
O Título 42 expira na quinta às 23:59 no horário de Washington (00:59, no horário de Brasília).
Essa regra, ativada durante o mandato do ex-presidente republicano Donald Trump, com o suposto objetivo de prevenir a entrada de pessoas com covid-19 no país, serviu na prática para expulsar rapidamente imigrantes, sem ter que aceitar suas solicitações de asilo.
Com sua expiração, os migrantes poderão apresentar novamente solicitações de asilo pela via judicial, um processo que pode demorar anos.
A administração do presidente democrata Joe Biden está sob forte pressão do Partido Republicano, que reclama que a fronteira está pouco controlada. Alguns membros desse partido conservador preveem a chegada de um milhão de pessoas pela fronteira nos próximos três meses.
E a 18 meses da eleição presidencial, onde a migração costuma ser um tema que gera discórdia, Biden espera que as novas regras ajudem a frear o fluxo na fronteira, para onde enviou 1.500 soldados a mais para ajudar em tarefas administrativas como entrada de dados.
Suspenso o Título 42, se seguirá usando o Título 8, com o qual se permite solicitar asilo, desde que a pessoa prove que será perseguida ou torturada caso retorne ao seu país, mas também autoriza a deportação acelerada dos demais. A normativa também prevê que sejam proibidos de entrar por cinco anos, uma vez expulsos.
O governador republicano do Texas, Greg Abbott, lamentou na segunda-feira (8) que o governo "ponha o carpete de boas-vindas para pessoas de todo o mundo" e ordenou o envio de centenas de soldados texanos para a fronteira, "para ajudar a interceptar e repelir" imigrantes que tentem entrar no Texas.
- Aplicativo para celular -
Em uma tentativa de prevenir chegadas multitudinárias pela fronteira, o governo Biden criou novas regras que estimulam os imigrantes a solicitar consultas para os seus pedidos de asilo por um aplicativo de celular. Porém, os que se encontram em Ciudad Juárez reclamam que o aplicativo CBP One não funciona direito.
Frustrados, alguns decidiram se entregar para a patrulha fronteiriça americana em uma das passagens.
"Dizem para mantermos a calma, para esperarmos aqui, mas nunca voltam. Não sabemos por quê", queixou-se a venezuelana Marjorie, mãe de duas crianças.
Além deste aplicativo, há vários meses um número limitado de venezuelanos, cubanos, haitianos e nicaraguenses pode solicitar asilo, mas apenas 30.000 por mês, e sob condições.
Para o prefeito de El Paso, tratam-se de soluções temporárias. "As leis federais de imigração não funcionam", afirma Leeser. "Não há fim. Não há fim para isso e realmente temos que averiguar para onde nos dirigimos".
A.M. de Leon--LGdM