Justiça russa condena opositor Navalny a outros 19 anos de prisão
O dirigente da oposição russa, Alexei Navalny, foi condenado nesta sexta-feira (4) a 19 anos de prisão sob a acusação de "extremismo" que se somam a outros nove por "peculato", em um veredito denunciado pela ONU, que exigiu sua "libertação imediata".
"Alexei Navalny foi condenado a 19 anos em uma colônia penal de segurança máxima", disse o porta-voz do dissidente, Kira Yarmych, na rede Twitter, agora chamada de X.
Um jornalista da AFP que assistia ao julgamento de uma sala de imprensa na penitenciária IK-6 na localidade de Mélejovo (a 250 km de Moscou) onde Navalny se encontra preso, a 250 km ao leste do Moscou, observou que ele sorriu ao ouvir a sentença e abraçou outro acusado antes que a transmissão fosse cortada.
A Promotoria alegou que Navalny criou uma organização que minava a segurança pública mediante "atividades extremistas".
O advogado de 47 anos já cumpre nove anos de prisão por denúncias de "peculato", que seus partidários consideram forjada em represália por ter desafiado o presidente Vladimir Putin.
Navalny foi preso em 2021 após voltar a Moscou vindo da Alemanha, onde esteve para se recuperar de um envenenamento cuja culpa ele atribui ao Kremlin.
Na quinta-feira, afirmou que esperava uma longa pena de prisão "stalinista", de aproximadamente 18 anos, e estimulou os seus seguidores a resistir.
"Por favor, considerem e se deem conta de que aprisionando centenas, Putin tenta intimidar milhares", declarou.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, pediu nesta sexta-feira a "libertação imediata" de Navalny.
Essa última condenação "gera novas preocupações sobre a perseguição judicial e a instrumentalização do sistema judiciário da Rússia com fins políticos", afirmou Türk em um comunicado.
A União Europeia denunciou um "processo forjado" e uma condenação "arbitrária", em represália à "coragem [de Navalny] de criticar o regime do Kremlin".
- Cerco à oposição -
O opositor russo tem muitos seguidores nas redes sociais, onde publicou vídeos sobre supostos casos de corrupção na elite russa e conseguiu mobilizar protestos antigovernamentais.
Sua Fundação Anticorrupção, que investiga dirigentes russos, foi proibida por extremismo em 2021.
Seu antigo chefe de pessoal, Leonid Volkov, e outros colaboradores também foram acusados de organizar ou participar de uma "comunidade extremista".
A maioria de seus aliados próximos fugiram da Rússia.
A repressão contra vozes dissidentes aumentou depois do início da ofensiva russa na Ucrânia em fevereiro de 2022 e levou a maioria do perseguido movimento opositor ao exílio.
- Cela de castigo -
Os últimos dias de Navalny antes do veredito transcorreram em uma cela de castigo, para qual, segundo seu porta-voz, ele é enviado frequentemente por pequenas infrações das normas penitenciárias.
No total, passou quase 200 dias nessa cela, segundo sua equipe.
O opositor disse que as autoridades penitenciárias o obrigaram a compartilhar cela com um réu doente e lhe submeteram e a outros presos a "tortura de Putin", fazendo-lhes escutar repetidamente discursos do presidente russo.
Também se queixou de problemas de saúde e ter perdido muito peso.
Em abril, Navalny disse que poderia ser julgado separadamente por acusações de terrorismo passíveis de prisão perpétua.
X.A. Mendez--LGdM