Nicarágua confisca bens de universidade jesuíta acusada de terrorismo
A Universidade Centro-Americana (UCA) da Nicarágua, jesuita, anunciou, nesta quarta-feira (16), a suspensão de todas as suas atividades, após um tribunal ordenar o confisco dos seus bens e fundos, depois de acusá-la de ser "um centro de terrorismo".
"As medidas são tomadas em correspondência às observações infundadas de que a Universidade Centro-Americana funcionou como um centro de terrorismo, organizando grupos criminosos", indicou a UCA em nota dirigida à comunidade universitária, referindo-se aos protestos de 2018, que deixaram mais de 300 mortos.
Durante essas manifestações, o então reitor da UCA, José Idiáquez, participou como diretor da aliança opositora em diálogos com o governo, que considerou os protestos uma tentativa de golpe de Estado.
A universidade explicou que recebeu na tarde de ontem um ofício notificando a apreensão, ordenada pelo Juizado Décimo Distrito Penal de Audiências Circunscrição Manágua, a cargo da juíza Gloria Maria Saavedra Corrales.
No ofício, "ordena-se que a apreensão de todos os bens descritos seja em favor do Estado da Nicarágua, que garantirá a continuidade de todos os programas educacionais", apontou a universidade.
Autoridades nicaraguenses haviam decidido sobre o congelamento das contas bancárias da UCA na semana passada, ainda que os meios oficiais não tenham anunciado nenhuma medida contra a universidade. O governo do presidente Daniel Ortega também não comentou o caso.
"A Universidade Centro-Americana suspende a partir de hoje todas as atividades acadêmicas e administrativas, até que seja possível retomá-las de maneira ordinária, o que será informado pelos canais de comunicação oficiais da Universidade", acrescentou o centro universitário. O início das aulas do segundo semestre estava previsto para 21 de agosto.
Autoridades do país também fecharam recentemente duas universidades da arquidiocese de Manágua, assim como aproximadamente 3.000 ONGs, em um contexto de endurecimento das leis após os protestos. Além disso, centenas de opositores foram enviados ao exílio e privados de seus bens e de sua nacionalidade.
O regime de Ortega mantém uma relação conflituosa com a Igreja Católica, com a prisão de bispos. Em fevereiro, o Papa disse estar "preocupado e entristecido" com a situação na Nicarágua.
M.Aguilar--LGdM