Milhares de refugiados chegam à Armênia; Baku promete garantir direitos de quem ficar
Milhares de refugiados de Nagorno Karabakh chegaram à Armênia nesta segunda-feira (25), apesar da promessa do Azerbaijão de "garantir" os direitos dos armênios que ficarem neste enclave, ocupado pelas tropas de Baku em uma operação relâmpago.
"Os habitantes de Nagorno Karabakh, seja qual for sua etnia, são cidadãos do Azerbaijão. Seus direitos serão garantidos pelo Estado azerbaijano", declarou o presidente Ilham Aliyev, durante uma coletiva de imprensa com seu contraparte turco, Recep Tayyip Erdogan, em Nakichevan, uma faixa de terra entre a Armênia e o Irã, incorporada ao Azerbaijão no começo dos anos 1920.
"Confio no sucesso do processo de reintegração dos armênios de Karabakh à sociedade azerbaijana", acrescentou Aliyev.
A visita do chefe de Estado turco, que desempenha um papel importante nesta parte do Cáucaso, tem forte valor simbólico, dias depois de as tropas azerbaijanas obterem uma vitória sobre as forças da "república" autoproclamada de Nagorno Karabakh, uma região majoritariamente povoada por armênios que o poder soviético anexou ao Azerbaijão em 1921.
Armênia e Azerbaijão, duas antigas repúblicas soviéticas, se enfrentaram militarmente em Nagorno Karabakh de 1988 a 1994 (30.000 mortos) e no outono de 2020 (6.500 mortos). Após esse último conflito, a Rússia enviou uma força de paz para este território.
Nesta segunda, Moscou repudiou firmemente as críticas do primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, que na véspera considerou que os russos não intervieram durante a operação fulminante de Baku.
A diplomacia russa chegou a acusar a Armênia, "refém dos jogos geopolíticos do Ocidente", de querer "destruir" as relações bilaterais, um "enorme erro", segundo Moscou.
Os separatistas afirmam que 200 pessoas morreram nos combates da semana passada, inclusive seis soldados russos que fazem parte de um contingente de paz mobilizado depois do último conflito, em 2020.
O Azerbaijão informou, por sua vez, que dois de seus soldados morreram na explosão de uma mina no domingo.
A União Europeia (UE) prevê receber na terça-feira, em Bruxelas, altos funcionários de Armênia e Azerbaijão.
- "Dias terríveis" -
No total, 6.650 pessoas "deslocadas à força" deste enclave chegaram à Armênia desde o domingo, segundo o mais recente balanço do governo de Ierevan.
Na cidade armênia de Goris, situada perto da fronteira com o Azerbaijão, muitos deslocados se amontoaram em um centro de acolhida instalado em um teatro.
"Foram dias terríveis", relatou Anabel Ghulasian, uma mulher de 41 anos, procedente do povoado de Rev, que os azerbaijanos chamam de Shalva.
A mulher chegou com a família em uma caminhonete, carregando os poucos pertences em várias sacolas.
Valentina Asrian, outra mulher de 54 anos, contou ter fugido da aldeia de Vank com os netos.
"Quem poderia pensar que os 'turcos' viriam a este povoado histórico armênio?", perguntou, usando uma expressão pejorativa para se referir às forças azerbaijanas.
A mulher está alojada temporariamente em um hotel de Goris, mas não tem nenhum parente disposto a recebê-la. "Não tenho para onde ir", afirmou.
- "Queremos voltar para Karabakh" -
No centro de acolhida montado pelo governo armênio em Kornidzor, na fronteira entre a Armênia e o Azerbaijão, um homem na casa dos 30 anos, que chegou no domingo ao local com o primeiro grupo de refugiados, contou que se arrepende de ter deixado para trás seu gado e o túmulo de sua filha de três anos.
"Tivemos 15 minutos para fazer as malas (...) Não lhe dissemos adeus. Espero poder voltar", contou.
Nos povoados azerbaijanos próximos a Nagorno Karabakh, como Terter e Beylagan, os moradores comemoraram a vitória de seu governo sobre os rebeldes e as ruas estão enfeitadas com bandeiras e retratos dos "mártires" mortos nos combates das últimas décadas.
Alguns deslocados no conflito esperam poder voltar a Karabakh.
"Claro que queremos voltar a Karabakh, estamos cansados da guerra e do medo", afirmou Nazakat Valiyeva, uma mulher de 49 anos que trabalhou como operária e perdeu o marido no conflito de 2020.
M.Pacheco--LGdM