Partido populista contrário à ajuda para Ucrânia vence eleições na Eslováquia
O partido populista Smer-SD, contrário à ajuda à Ucrânia e que critica tanto a União Europeia (UE) como a Otan, venceu as eleições legislativas de sábado na Eslováquia, segundo os resultados anunciados neste domingo.
O partido do ex-primeiro-ministro Robert Fico recebeu 23% dos votos e superou a legenda de centro Eslováquia Progressista, com 18%.
"A Eslováquia e seus habitantes têm problemas mais importantes que a Ucrânia", disse Fico à imprensa neste domingo.
O político acrescentou que a situação na Ucrânia "é uma enorme tragédia para todos" e pediu negociações de paz. "Mais mortes não ajudarão ninguém", afirmou.
Durante a campanha, o ex-premiê prometeu que a Eslováquia interromperia o envio de ajuda à Ucrânia e defendeu que o país tenha relações melhores com a Rússia.
A presidente da Eslováquia, Zuzana Caputova, declarou neste domingo que solicitará oficialmente na segunda-feira que o Smer-SD forme um governo.
Analistas acreditam que um governo de Fico pode mudar a política externa eslovaca para algo parecido com o que faz o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban.
Fico afirmou que a orientação da política externa da Eslováquia não vai mudar porque o país é membro da UE.
"Isto não significa que eu não possa criticar coisas que não me agradam na UE", disse.
O Smer-SD conquistou 42 cadeiras das 150 do Parlamento e precisará formar uma coalizão para governar o país.
Um possível aliado será o partido esquerdista Hlas-SD, criado em 2020, quando um grupo de deputados do Smer abandonou a legenda. A formação conseguiu 27 cadeiras no Parlamento.
O Hlas-SD é liderado por Peter Pellegrini, que assumiu o cargo de primeiro-ministro em 2018, depois da renúncia de Fico ao posto de chefe de Governo em meio aos protestos no país devido ao assassinato do jornalista Jan Kuciak e sua companheira.
Kuciak revelou as ligações entre a máfia italiana e o governo de Fico em sua última reportagem, publicada de maneira póstuma.
Pellegrini declarou à imprensa que não é uma boa ideia ter dois ex-primeiros-ministros no mesmo governo, mas que isto "não significa que uma coalizão deste tipo seja impossível".
O analista Branislav Kovacik, da Universidade Matej Bel, disse à AFP que acredita na presença de Pellegrini na coalizão.
"Talvez ele não integre o gabinete. Poderia ser o presidente do Parlamento, já exerceu o cargo no passado e fez um bom trabalho", comentou.
Os dois partidos estabeleceram uma aliança no passado com o nacionalista Partido Nacional Eslovaco (SNS), que conseguiu 10 cadeira no Parlamento, para alcançar a maioria de 79 legisladores.
Fico já formou governo duas vezes com o SNS, que também é contrário à ajuda para a Ucrânia.
A Eslováquia é uma das principais contribuintes na ajuda para a Ucrânia, levando em consideração o PIB do país.
O ministro eslovaco da Defesa, Martin Sklenar, visitou Kiev antes da eleição. No dia da votação, o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky agradeceu o apoio da Eslováquia.
- Desinformação -
A campanha foi marcada por elevados índices de desinformação na internet, com vários ataques ao presidente do partido Eslováquia Progressista, Michal Simecka, que é vice-presidente do Parlamento Europeu.
Um estudo da organização Globsec mostrou no ano passado que a maioria dos eslovacos acredita em teorias da conspiração.
A Eslováquia virou um país independente em 1993, após a separação pacífica da República Tcheca, depois que a ex-Tchecoslováquia acabou em 1989 com quatro décadas de governo comunista.
O.Escareno--LGdM