Blinken visita México em meio a tensões sobre fentanil e expansão do muro fronteiriço
O chefe da diplomacia americana, Antony Blinken, busca soluções, nesta quinta-feira (5), durante visita ao México, para o tráfico de fentanil e a migração ilegal, em meio à surpreendente decisão de Washington de expandir o muro fronteiriço.
O novo trecho será construído no Vale do Rio Bravo (Texas), uma das áreas mais porosas para a entrada de migrantes, segundo a resolução publicada nesta quinta-feira e criticada pelo presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador.
"É um retrocesso porque isso não resolve o problema, temos que abordar as causas (da migração)", disse o presidente em sua habitual coletiva de imprensa, pouco antes de receber Blinken no Palácio Nacional.
Mas o seu homólogo americano, Joe Biden, justificou-se explicando que os fundos foram atribuídos para este fim durante o governo do seu antecessor, Donald Trump, e que ele não poderia legalmente alterar sua destinação.
- Prioridade dos EUA: o fentanil -
De todo modo, a prioridade da Casa Branca durante o Diálogo de Segurança de Alto Nível, que acontece no México, será definir medidas que endureçam o combate ao fentanil, segundo o procurador-geral dos EUA, Merrick Garland, que acompanha Blinken.
Essa e outras drogas sintéticas causaram dezenas de milhares de mortes por overdose nos Estados Unidos em 2022.
Washington acusa os cartéis mexicanos de fabricarem o opiáceo com precursores adquiridos de empresas chinesas, razão pela qual ambos os parceiros pedem mais cooperação de Pequim. Na terça-feira, os Estados Unidos sancionaram uma rede de empresas do país asiático por sua suposta participação no contrabando dessas substâncias.
Para o presidente Joe Biden, é prioritário chegar a acordos sobre "ações maiores" por parte do México que detenham o tráfico de insumos, disse à AFP Stephanie Brewer, do Washington Office on Latin America (WOLA).
Isso significa aprofundar o intercâmbio de Inteligência, desmantelar cadeias de abastecimento e extraditar traficantes, acrescentou.
Embora López Obrador tenha limitado o trabalho de agentes estrangeiros, alegando ingerência externa, o México extraditou, em 15 de setembro, Ovidio Guzmán, um dos herdeiros de Joaquín "Chapo" Guzmán, acusado de tráfico de fentanil.
Garland anunciou que o governo americano solicitará a prisão e entrega de outros três filhos de "Chapo", ex-chefe do cartel de Sinaloa, que cumpre pena de prisão perpétua nos Estados Unidos. Esse grupo e o Cartel Jalisco Nova Geração (CJNG) são os mais poderosos do México, e suas conexões se estendem por vários países.
- "Proteção" -
A migração é outro tema da agenda, especialmente importante para as eleições de 2024, nas quais Biden tentará a reeleição.
Na quarta-feira, Blinken reuniu-se com os seus homólogos do México, Colômbia (Álvaro Leyva) e Panamá (Janaina Tewaney), principais pontos de trânsito de migrantes rumo aos Estados Unidos.
López Obrador, que propõe um plano de investimento nos países de origem, critica frequentemente que o seu vizinho não tenha levado a proposta tão a sério quanto leva a cooperação militar na Ucrânia.
Somente em agosto, 233 mil pessoas cruzaram a fronteira com os Estados Unidos e muitas foram deportadas, enquanto o México garante que cerca de 6 mil migrantes chegam diariamente ao seu território, vindos principalmente de Venezuela, Cuba, América Central e Haiti, mas também africanos e asiáticos.
Na semana passada, em um único dia, 10 mil pessoas chegaram a Chiapas (sul), fluxo que levou a principal companhia ferroviária mexicana a suspender temporariamente a operação de um terço dos seus trens de carga, que são usados pelos migrantes.
Existe o "risco" de que, durante a visita de Blinken, sejam anunciadas "medidas de curto prazo que violam os direitos humanos", que se somariam a outras que restringiram o "direito de pedir asilo", alerta a WOLA.
Os países envolvidos devem "priorizar a proteção dos refugiados e das pessoas deslocadas", acrescentou Brewer, lembrando que estas populações fogem da violência e da pobreza.
Um relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM), divulgado em setembro, revelou que a fronteira entre os Estados Unidos e o México foi a "rota migratória terrestre mais perigosa do mundo" em 2022, com 686 mortos ou desaparecidos.
T.Hernandez--LGdM