Hamas ameaça matar reféns em resposta a bombardeios israelenses
O grupo islamita palestino Hamas ameaçou, nesta segunda-feira (9), matar os reféns capturados no sábado, no primeiro dia de sua inédita ofensiva contra Israel, em resposta aos bombardeios israelenses que se multiplicam desde então contra a Faixa de Gaza.
A ameaça do Hamas, que controla o empobrecido enclave desde 2007, ocorre depois de Israel ordenar o "cerco completo" desse território de 360 km², onde mais de 2 milhões de palestinos vivem em condições precárias.
No sábado, o movimento islamita palestino lançou uma ofensiva-surpresa por terra, ar e mar contra Israel, que compara o ataque aos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos.
Desde então, mais de 800 pessoas perderam a vida do lado israelense e mais de 2.600 ficaram feridas, segundo as autoridades. Os insurgentes do Hamas mataram até 250 pessoas que participavam de um festival de música perto do enclave palestino, segundo a ONG Zaka, que ajuda nas operações de busca dos corpos.
Do lado palestino, 687 pessoas morreram nos bombardeios israelenses e 2.900 ficaram feridas, segundo o último balanço das autoridades locais.
Nesta segunda-feira, o Exército israelense anunciou que retomou o "controle" das localidades do sul invadidas por milícias do Hamas, embora tenha admitido que ainda "possa haver terroristas na região".
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pediu à população que se prepare para uma guerra "longa e difícil" e fez um chamado pela formação de um governo de "unidade nacional".
"O que o Hamas viverá será difícil e terrível (...) Vamos mudar o Oriente Médio", disse Netanyahu.
O braço armado da organização islamita respondeu em um comunicado que "cada ataque contra o nosso povo sem aviso prévio será respondido com a execução de um dos reféns civis".
"O inimigo não entende a linguagem humanitária e ética, então vamos falar com eles em um idioma que eles entendam", acrescentaram as Brigadas Ezzeldin al Qassam no comunicado.
Cerca de 150 pessoas foram sequestradas pelo grupo islamita palestino.
- "Cerco completo" a Gaza -
Dezenas de soldados israelenses estão sendo mobilizados perto da Faixa de Gaza. O Exército também está bombardeando a região como resposta ao ataque.
O ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, ordenou nesta segunda-feira um "cerco completo" ao enclave.
"Estamos impondo um cerco completo a Gaza (...) nem eletricidade, nem comida, nem água, nem gás, tudo fechado", disse Gallant em um vídeo. "Estamos lutando contra animais e esta é a consequência", acrescentou.
No pequeno território, mais de 123.000 pessoas foram obrigadas a deixar suas casas, informou o Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha) da ONU.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, expressou preocupação com a decisão israelense e lembrou que "as operações militares devem ser realizadas em conformidade com o Direito Internacional Humanitário".
O Exército também concentra seus esforços em salvar os cidadãos sequestrados pelo Hamas.
Entre os reféns há crianças e um sobrevivente do Holocausto em cadeira de rodas, asseguraram as autoridades israelenses.
Vários cidadãos de outros países, alguns com dupla nacionalidade israelense, morreram na ofensiva, entre eles 12 tailandeses, dez nepaleses e pelo menos nove americanos. Também há ao menos três brasileiros desaparecidos, segundo o governo.
Espanha, México, Alemanha e outros países também informaram que alguns de seus cidadãos haviam sido afetados pela ofensiva, sem dar mais detalhes.
- Tensões na fronteira com o Líbano -
Nesta segunda-feira, as sirenes também soaram em Jerusalém e no centro do país, enquanto foguetes seguiam sendo lançados de Gaza, principalmente contra o sul de Israel.
Jonathan Panikoff, diretor da iniciativa Scowcroft para a segurança do Oriente Médio, estima que "Israel foi pego desprevenido" neste ataque e "muitos israelenses não entendem como isso pôde acontecer".
O país enfrenta agora a ameaça de uma guerra em várias frentes. No domingo, o movimento libanês Hezbollah lançou projéteis contra posições israelenses em uma região fronteiriça em disputa, mostrando "solidariedade" com o Hamas.
Ainda nesta segunda, "vários suspeitos armados" que haviam se infiltrado do vizinho Líbano foram mortos pelo Exército israelense, que bombardeou a região.
Três membros do Hezbollah morreram no ataque, informou a formação pró-Irã em comunicados separados.
A Jihad Islâmica - que afirma apoiar o Hamas em sua ofensiva - reivindicou a frustrada operação de infiltração, já o Hezbollah negou qualquer envolvimento.
- Reação global -
Nesta segunda, a China condenou qualquer ação que atente contra os civis e defendeu um cessar-fogo. A Rússia e a Liga Árabe, que rejeitam a violência "de ambos os lados", foram pelo mesmo caminho e anunciaram uma reunião de emergência para quarta-feira.
E a União Europeia (UE) convocou para terça-feira uma reunião de chanceleres e anunciou que revisará seus programas de assistência aos palestinos, depois de uma controvérsia sobre uma suspensão de pagamentos que provocou reações em diversas capitais do bloco.
O Irã, que mantém estreitas relações com o Hamas e foi um dos primeiros países a aplaudir a ofensiva do grupo islamita, rejeitou as acusações sobre seu papel na operação e disse que "se baseiam em motivos políticos".
Israel, que ocupa a Cisjordânia desde 1967, anexou a parte oriental de Jerusalém e impõe um bloqueio a Gaza desde que o Hamas tomou o poder no enclave em 2007.
L.Navarro--LGdM