Tensão extrema na Cidade Velha de Jerusalém
Nas ruas estreitas e quase desertas da parte palestina da Cidade Velha de Jerusalém, a tensão é extrema. Alguns jovens muito irritados tentam, sem sucesso, passar pelo controle policial em direção à Esplanada das Mesquitas.
Quase uma semana após a sangrenta ofensiva lançada em Israel pelo movimento islamita palestino Hamas, as autoridades israelenses só permitem o acesso à Esplanada a fiéis acima dos 55 anos.
A Esplanada está localizada em Jerusalém Oriental, a parte palestina da Cidade Santa, ocupada desde a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, e anexada por Israel. Lá fica a mesquita de Al-Aqsa, o terceiro local mais sagrado do Islã.
"É pelo que aconteceu", diz Abu Ahmad, de 62 anos, morador do bairro vizinho de Shuafat, referindo-se à guerra desencadeada pelo ataque sem precedentes do Hamas no sábado, que deixou pelo menos 1.300 mortos, a maioria civis, em Israel.
Israel, em retaliação, tem bombardeado nos últimos seis dias as infraestruturas do Hamas na Faixa de Gaza, onde 1.799 pessoas, incluindo 583 crianças, morreram, de acordo com autoridades locais.
No entanto, quando perguntado se o Hamas era responsável por essa situação, Abu Ahmad abaixa a cabeça e diz antes de partir: "Não quero falar sobre isso. Mas matar crianças é errado".
- "Vão rezar em Gaza -
Um idoso cego, apoiado em uma bengala, se aproxima. Os policiais o observam por um breve momento e depois se afastam para deixá-lo entrar na Esplanada.
Um grupo de jovens mulheres aproveita a situação para confrontar os soldados que estão controlando o acesso. Elas gritam e tentam empurrar os homens, que são muito maiores que elas.
A tensão aumenta. Um grupo em que todos claramente têm menos de 55 anos se aproxima rapidamente e se aglomera na esquina da rua al-Wad, que leva à Porta de Damasco, a maior das oito portas de Jerusalém, que recebeu por milhares de anos peregrinos e comerciantes da Síria.
Os agentes gritam até que alguém que parece ser seu superior ordena, com voz alta e em árabe, a dispersão de todos os fiéis.
Os policiais ficam furiosos. "Vão rezar em Gaza, se quiserem", diz um deles, ainda abalado pelo terror semeado em 7 de outubro pelo Hamas, cujos combatentes mataram civis nas ruas, em suas casas e até em um festival de música no deserto.
Em questão de segundos, os agentes erguem uma alta barreira metálica, bloqueando completamente o acesso.
Nas ruas, grupos de policiais e guardas de fronteira, com os dedos nos gatilhos, patrulham e exigem que os pedestres mostrem seus documentos de identificação.
- "Vai durar muito tempo" -
A alguns quilômetros dali, no bairro de Wadi Joz, a polícia usou canhões d'água e gás lacrimogêneo para dispersar fiéis que queriam rezar na rua, perto de uma mesquita fechada para menores de 55 anos.
Impedido de rezar, Ryad, um comerciante de 52 anos, acaricia nervosamente o rosário onde estão inscritos os 99 nomes de Alá, de acordo com a tradição islâmica.
"Isso vai durar muito tempo (...), até que os judeus tenham vingado o derramamento de sangue de seus filhos", lamenta.
Durante o dia, pelo menos nove palestinos também morreram na Cisjordânia ocupada em confrontos com as forças israelenses durante manifestações em solidariedade à Faixa de Gaza, segundo o ministro palestino da Saúde.
S.Lopez--LGdM