Diplomacia entra em cena para evitar 'catástrofe' em Gaza e conflito regional
As iniciativas diplomáticas se intensificaram, nesta segunda-feira (16), para tentar evitar uma "catástrofe humanitária" e que o conflito entre Hamas e Israel se espalhe pela região, dez dias depois do ataque sangrento do movimento islamita palestino em território israelense.
O presidente russo, Vladimir Putin, falou por telefone com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, sobre o conflito com o Hamas e o informou sobre suas conversas com vários líderes regionais e a Autoridade Palestina.
Também prestou contas a seu interlocutor "das medidas tomadas pela Rússia para promover a normalização da situação, impedir uma nova escalada da violência e prevenir uma catástrofe humanitária na Faixa de Gaza", afirmou o Kremlin.
O chefe da diplomacia turca, Hakan Fidan, conversou por telefone com o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, sobre a "possibilidade" de libertar os reféns que o movimento palestino mantém cativos desde 7 de outubro, quando lançou seu ataque letal, no qual morreram mais de 1.400 pessoas em Israel, muitas delas civis, segundo as autoridades israelenses.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas, lançou uma intensa campanha de bombardeios na Faixa se Gaza e pediu aos civis que fugissem para o sul. Ao menos 2.750 pessoas perderam a vida até o momento, incluindo centenas de crianças, segundo as autoridades locais do enclave.
O Hamas, uma organização classificada como "terrorista" por Estados Unidos, União Europeia (UE) e Israel, sequestrou 199 pessoas durante o ataque, segundo Israel. Até agora, o Hamas informou que 22 delas morreram em bombardeios israelenses contra a Faixa de Gaza.
Na noite desta segunda, o movimento islamita divulgou um vídeo no Telegram no qual supostamente aparece "uma das cativas de Gaza", no qual vê-se uma mulher falando em hebraico. No entanto, a autenticidade das imagens não pôde ser comprovada.
- Nenhuma trégua -
Nesta segunda, Israel afirmou que não tem previsto instaurar nenhuma trégua para permitir que a ajuda humanitária chegue a Gaza, onde, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), poderia ocorrer uma "verdadeira catástrofe" humanitária dentro de 24 horas. Este enclave está sitiado por Israel desde 9 de outubro.
"Restam 24 horas de água, eletricidade e combustível", alertou, nesta segunda, Ahmed Al Mandhari, chefe regional da OMS.
Se a ajuda humanitária não chegar, os médicos só vão poder "preparar as certidões de óbito", sentenciou.
Submetida a um bloqueio israelense por terra, mar e ar há mais de 15 anos, a Faixa de Gaza se encontra em estado de "sítio completo" desde 9 de outubro por parte de Israel, que cortou o fornecimento de água, eletricidade e alimentos do enclave.
"Sem eletricidade, sem água, sem internet, sinto que estou perdendo minha humanidade", disse Mona Abdel Hamid, de 55 anos, que foi para a passagem de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, na fronteira com o Egito.
"Os civis não deveriam sofrer com as atrocidades do Hamas", afirmou o secretário de Estado americano, Antony Blinken, que nesta segunda voltou a Israel após um giro por vários países árabes.
Centenas de pessoas se amontoaram nesta segunda-feira no sul de Gaza, na fronteira com o Egito, com a esperança de que fosse aberto o posto fronteiriço de Rafah, única saída de Gaza ao exterior não controlada por Israel.
"Há oito dias dormimos na fronteira, sem nenhuma ajuda", disse Osama Abu Samhadana, um egípcio que queria voltar para seu país com sua família.
Segundo a ONU, um milhão de pessoas fugiram para o sul do enclave em uma semana.
Mas a passagem de Rafah, controlada pelo Egito, está fechada.
- Corredor aéreo -
A União Europeia, por sua vez, anunciou que vai habilitar um corredor aéreo humanitário com o enclave, mas não deu detalhes sobre como prevê fazer os carregamentos chegarem ao local.
A operação se anuncia complicada, pois o exército israelense continua com os preparativos para uma ofensiva terrestre em Gaza.
"Deixe-me dizer-lhe: será uma guerra longa, o preço será alto, mas vamos vencer por Israel, pelo povo judeu e pelos valores nos quais nossos povos acreditam", declarou o ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant, a Antony Blinken, durante encontro em Tel Aviv.
"Estamos no começo de operações militares em larga escala na Cidade de Gaza", localizada no norte do território, disse nesta segunda o porta-voz do Exército, Jonathan Conricus. "Os civis não estariam seguros se ficassem aqui", acrescentou.
Nesta segunda, o Hamas disse que "não tem medo" desta ofensiva de Israel, que concentrou soldados e artilharia ao longo de sua fronteira com a Faixa de Gaza.
Esta possível ofensiva preocupa a comunidade internacional de que possa estender o conflito para a região.
- "Erro grave" -
O presidente americano, Joe Biden, alertou que uma nova ocupação da Faixa de Gaza por Israel seria um "erro grave". Israel ocupou Gaza da Guerra dos Seis Dias, em 1967, até 2005.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, vai viajar a Israel esta semana e será o primeiro chefe de governo estrangeiro a visitar o país desde o início da guerra desencadeada pelo ataque do Hamas.
A tensão também é elevadíssima na fronteira norte de Israel com o Líbano. Nesta segunda, Israel começou a evacuar os moradores ao longo desta fronteira, onde os confrontos entre o movimento Hezbollah pró-iraniano, aliado do Hamas, e o exército israelense têm se multiplicado nos últimos dias.
O ministro israelense das Relações Exteriores, Hossein Amir Abdollahian, alertou, no entanto, que o prazo "para encontrar soluções políticas" que impeçam a propagação do conflito está se esgotando.
A.Sandoval--LGdM