Com veto dos EUA, Conselho de Segurança da ONU rejeita resolução sobre conflito Israel-Hamas
Com o veto dos Estados Unidos, o Conselho de Segurança da ONU rejeitou, nesta quarta-feira (18), um projeto de resolução proposto pelo Brasil sobre o conflito israelense-palestino, que condenava expressamente os "odiosos ataques terroristas" do grupo Hamas, mas não mencionava o direito de Israel de se defender, como exigia Washington. A votação coincidiu com a visita do presidente americano, Joe Biden, a Israel.
A resolução, proposta pelo Brasil, atual presidente do Conselho de Segurança, obteve 12 votos a favor, um contra dos Estados Unidos (um dos cinco membros permanentes com poder de veto) e duas abstenções, da Rússia e da China.
Foi a segunda vez em uma semana que a ONU falha em sua tentativa de aprovar uma resolução sobre o conflito.
Sujeito a alterações de última hora após o bombardeio a um hospital na Faixa de Gaza que deixou centenas de mortos, e pelo qual as partes em conflito se acusam mutuamente, o texto focava sobretudo no fim das hostilidades e no aspecto humanitário, incluindo a criação de um corredor para a saída de cidadãos de terceiros países e a entrada de ajuda urgente para uma população em situação grave em Gaza.
Também "enfatizava" que "os civis em Israel e no território palestino ocupado, incluindo Jerusalém Oriental, devem ser protegidos, de acordo com a legislação internacional".
A embaixadora dos EUA na ONU, Linda Thomas-Greenfield, disse que seu país está "decepcionado" porque a resolução "não mencionava os direitos de autodefesa de Israel".
"Como todas as nações do mundo, Israel tem o direito inerente à autodefesa, conforme refletido no Artigo 51 da Carta da ONU", afirmou, enquanto Biden reiterava, nesta quarta, durante visita a Tel Aviv, seu apoio a Israel.
Na segunda-feira, o Conselho de Segurança rejeitou uma resolução proposta pela Rússia que condenava a escalada da violência no Oriente Médio e se recusava a endossar um texto que não mencionava o Hamas por seu ataque surpresa a Israel, que deixou ao menos 1.400 mortos.
Nesta quarta, a Rússia apresentou duas emendas ao texto proposto pelo Brasil para introduzir um "apelo sem ambiguidade para deter os ataques indiscriminados contra alvos civis na Faixa de Gaza" e uma "enérgica condenação ao bloqueio", que foram rejeitadas.
O ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, lamentou, em Brasília, a rejeição do texto. "Infelizmente não foi possível aprovar essa resolução, ficou clara uma divisão de opiniões", disse.
Israel anunciou, durante a visita de Biden, que permitirá o envio de "comida, água e medicamentos" do Egito para a Faixa da Gaza, totalmente bloqueada há dez dias. Em comunicado posterior, porém, condicionou a entrada de ajuda à libertação, por parte do Hamas, dos 200 reféns capturados em 7 de outubro.
- "Oportunidade perdida" -
Para o embaixador francês, Nicolas de Riviere, foi uma "oportunidade perdida" para o principal órgão da ONU, que não aprova uma resolução sobre o conflito israelense-palestino desde dezembro de 2016.
A divisão entre o mundo árabe e o Ocidente, em particular os EUA, que deram apoio incondicional a Israel, fica cada vez mais evidente após a reação aos atentados do Hamas e a resposta militar israelense contra a Faixa de Gaza.
"Matar mais palestinos nunca, nunca tornará Israel mais seguro", alertou o embaixador palestino Ryad Mansour, no Conselho de Segurança, antes de pedir que "o derramamento de sangue pare já". "Não há lógica, moral, nem lei neste mundo que justifique matar a população", defendeu.
Frente ao apelo de muitos líderes mundiais pelo fim da violência em Gaza, milhares de pessoas protestaram nesta quarta, nas ruas de muitas capitais árabes, contra o bombardeio do hospital, que deixou, segundo as autoridades de saúde de Gaza, ao menos 471 mortos.
Após anunciar que "esta semana" pedirá ao Congresso uma ajuda "sem precedentes" para Israel, Biden apoiou a criação de dois Estados.
"Por mais difícil que seja, devemos seguir buscando a paz, devemos seguir buscando um caminho para que tanto Israel quanto o povo palestino possam viver em segurança, com dignidade e em paz", afirmou o presidente americano em Tel Aviv. "Para mim, isso significa uma solução de dois Estados".
H.Jimenez--LGdM