Sudão retoma diálogo sem dar pausa nos combates
Os generais rivais do Sudão estão de volta à mesa de negociações na Arábia Saudita, mas os combates continuam pelo controle da segunda maior cidade do país.
Em seis meses, a guerra entre o comandante do Exército, general Abdel Fatah al Burhan, e os paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR), do general Mohamed Hamdan Daglo, deixou mais de 9.000 mortos e quase seis milhões de deslocados.
No entanto, nenhum dos lados conseguiu obter uma vantagem decisiva.
Em Cartum, a Força Aérea não conseguiu expulsar as FAR, que ainda controlam as ruas da capital, enquanto o Exército controla o leste do país.
Na quinta-feira passada, as negociações foram retomadas na cidade saudita de Jidá, que segundo Riad e Washington visam apenas obter um acordo de trégua e entrega de ajuda humanitária.
"As negociações não abordarão questões políticas mais amplas", segundo declarações separadas do Ministério das Relações Exteriores da Arábia Saudita e do Departamento de Estado dos EUA.
Para quebrar o impasse no início das negociações, as FAR alegaram ter tomado Nyala, capital do estado de Darfur do Sul e maior cidade da enorme região ocidental de Darfur, um reduto tradicional dos paramilitares.
Com a frágil infraestrutura do Sudão destruída, Nyala poderá ser essencial para reabastecer as forças na região porque tem aeroporto, ferrovia e um importante cruzamento rodoviário.
- Importância estratégica -
Os paramilitares controlam há três meses o posto de OM Dafouq, que faz fronteira com a República Centro-Africana, e tomaram outras rotas de abastecimento para Cartum, 1.000 km a nordeste.
Nyala é também "o maior centro militar nos três estados de Darfur do Sul, Darfur Central e Darfur do Leste", disse à AFP um ex-oficial do Exército, que pediu para não ser identificado porque não estava autorizado a falar sobre o assunto.
Com o controle da cidade, as FAR consolidariam o seu controle sobre Darfur, onde os massacres étnicos dessa força paramilitar e das milícias aliadas são alvo de uma nova investigação do Tribunal Penal Internacional (TPI).
O TPI investiga, há duas décadas, crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio em Darfur, cometidos pela milícia Janjaweed, antecessora das FAR.
Além da sua importância militar estratégica, Nyala é também o centro financeiro de Darfur, uma região do tamanho da França que abriga 25% dos 48 milhões de habitantes do Sudão.
Na quinta-feira, enquanto representantes dos dois lados se reuniam com mediadores sauditas e americanos em Jidá, as FAR divulgaram imagens do irmão e subordinado de Daglo, Abdelrahim Daglo, liderando tropas em Nyala.
- Grandes baixas -
A força paramilitar anunciou imediatamente que havia tomado a cidade e a sua divisão de infantaria.
O Exército, no entanto, respondeu que a 16ª Divisão de Infantaria repeliu o ataque e infligiu "grandes baixas humanas e materiais" ao inimigo.
Segundo moradores, os combatentes das FAR estão espalhados pela cidade.
"Os combatentes das FAR estão por toda parte, mas não vemos o Exército desde quarta-feira", disse à AFP Adam, morador do bairro de Al Wadi, que pediu para não revelar seu nome completo por medo de represálias.
Ali, que vive em outro distrito de Nyala, afirmou que as duas forças controlaram diferentes partes da cidade desde o início da guerra e que o controle das FAR "foi encerrado por etapas".
Depois de meses de disputas, a última etapa ocorreu na semana passada, quando "as FAR atacaram a 16ª divisão com 300 veículos armados", disse uma fonte do Exército.
As tentativas anteriores de mediação na guerra conseguiram apenas breves tréguas, que foram sistematicamente violadas.
Analistas afirmam que Burhan e Daglo optaram por uma guerra de desgaste, buscando extrair concessões na mesa de negociações.
A.Soto--LGdM