Combativo e virulento, Trump se defende em julgamento que ameaça seu império imobiliário
Donald Trump se defendeu, nesta segunda-feira (6), lançando impropérios contra o juiz e a procuradora do julgamento civil em Nova York que ameaça seu império imobiliário, o primeiro de vários desafios na Justiça para o bilionário que sonha em retornar à Casa Branca.
O ex-presidente americano, de 77 anos, foi submetido a um interrogatório de mais de quatro horas após jurar dizer toda a verdade, em uma sala de audiência lotada do Palácio de Justiça de Manhattan.
Acusado de ter inflado de forma colossal o valor de seus ativos imobiliários (como a Trump Tower de Nova York) para seduzir os bancos, o bilionário intempestivo negou qualquer fraude e atacou a procuradora-geral de Nova York, Letitia James, a democrata que colocou a empresa familiar Trump Organization no banco dos réus, e o juiz de instrução Arthur Engoron.
"É uma caça às bruxas política", bradou o magnata republicano, que afirma ser vítima de uma suposta maquinação judicial, digna de um "país do terceiro mundo e de repúblicas bananeiras".
- 'Manifestação política' -
Ao longo do interrogatório, o juiz Engoron, sentado ao lado de Trump, tentou fazer com que o ex-presidente fosse sucinto e respondesse às perguntas.
"Não estamos em uma manifestação política", advertiu o juiz, que já impôs multas a Donald Trump, de 5.000 e 10.000 dólares (R$ 24,5 mil e R$ 49 mil), por atacar a secretária judicial.
Neste julgamento civil, a Promotoria nova-iorquina acusou Trump e dois de seus filhos, Donald Jr. e Eric, de ter sobreavaliado os ativos da Trump Organization - um conglomerado de empresas que administra arranha-céus, hotéis, residências de luxo e campos de golfe em todo o mundo, - para obter melhores empréstimos bancários e condições de seguro mais favoráveis.
Na sala de audiências do tribunal de Manhattan, Donald Trump, com terno azul marinho e camisa e gravata combinando, foi virulento, mas também argumentou, de braços cruzados.
Volúvel, discutiu o valor das "joias" de seu império, como sua opulenta mansão de Mar-a-Lago, na Flórida, e afirmou que os ativos estavam, pelo contrário, "subvalorizados" e que os bancos tinham feito um bom negócio ao lhe emprestar "muito dinheiro".
"Não há vítimas, os bancos ganharam muito dinheiro", afirmou.
- 'Marca Trump' -
Empresário de sucesso antes de entrar na política e virar de cabeça para baixo as instituições americanas, o bilionário do setor imobiliário exaltou o valor da "marca Trump".
"Tornei-me presidente [de Estados Unidos] graças à minha marca", disse.
É a primeira vez em mais de 100 anos que um ex-presidente é intimado a depor em sua própria defesa em um julgamento, desde Theodore Roosevelt na década de 1910.
Ao contrário dos outros quatro casos criminais em que foi acusado, Donald Trump não enfrenta uma pena de prisão neste julgamento civil, mas sua empresa pode estar em perigo.
Antes do início do julgamento no começo de outubro, o juiz considerou que a Procuradoria-Geral do Estado de Nova York apresentou "provas conclusivas de que, entre 2014 e 2021, os acusados superestimaram o valor dos ativos" do grupo em "812 milhões de dólares [a] 2,2 bilhões de dólares [R$ 3,9 bilhões e R$ 10,7 bilhões]", dependendo do ano, nos demonstrativos financeiros anuais da empresa.
Como consequência das "repetidas fraudes", Engoron determinou a liquidação das sociedades que administravam esses ativos, como a Trump Tower da Quinta Avenida de Nova York e o arranha-céu neogótico do número 40 de Wall Street.
Se essa decisão judicial, que está atualmente suspensa por ter sido objeto de um recurso, fosse aplicada, o bilionário republicano perderia o controle de parte de seu império imobiliário, após ter entrado na política usando sua imagem de empresário bem-sucedido.
Donald Jr. e Eric já tinham prestado depoimento perante o juiz na semana passada, na qualidade de vice-presidentes da empresa familiar. Sua filha Ivanka foi intimada a depor na próxima quarta-feira.
Como a fraude já foi comprovada, o julgamento vai se concentrar no valor da multa. A Procuradoria-Geral pede 250 milhões de dólares (R$ 1,2 bilhão na cotação atual) e a proibição para Trump e seus filhos de dirigir empresas.
Em março de 2024, Trump voltará ao banco dos réus em um tribunal federal de Washington para responder sobre suas supostas tentativas de reverter o resultado das eleições de 2020.
Contudo, seus problemas judiciais não parecem afetar sua popularidade nas pesquisas.
S.Moreno--LGdM