Rabino ajuda agricultores da Cisjordânia contra violência dos colonos
Com um traje de proteção, o rabino Arik Ascherman monta guarda sob uma oliveira da Cisjordânia ocupada para proteger agricultores palestinos da violência que se abateu sobre eles desde a guerra entre Israel e o Hamas em Gaza.
"Não há nenhuma desculpa, nenhuma explicação, nenhuma justificativa para o que o Hamas fez" em 7 de outubro, afirma o homem, de 64 anos.
Milicianos do movimento islamista mataram nesse dia 1.200 pessoas em Israel e sequestraram mais de 240, segundo as autoridades israelenses.
Desde então, Israel bombardeia a Faixa de Gaza, governada pelo Hamas, e lançou incursões terrestres. Segundo o grupo islamista, mais de 11.100 pessoas morreram até agora no pequeno território.
"O israelense médio não está pronto nem quer fazer a distinção entre os palestinos terroristas e os palestinos aterrorizados", disse à AFP Ascherman, cofundador da ONG Rabinos pelos Direitos Humanos.
Enquanto ele fala, agricultores lançam azeitonas em lonas colocadas sob árvores centenárias.
- Colonos e soldados -
"Estou há 28 anos fazendo isso e nunca fui tão marginalizado", conta.
Todos os anos, no outono, na Cisjordânia, território palestino ocupado há mais de cinco décadas por Israel, colonos incendeiam ou derrubam árvores e o soldados israelenses bloqueiam o acesso às oliveiras.
Porém, esta temporada é especial porque coincide com a guerra em Gaza e o recrudescimento dos confrontos na Cisjordânia, onde já morreram mais de 180 palestinos desde 7 de outubro, segundo as autoridades locais.
Os soldados israelenses multiplicam as operações nos centros das cidades. Segundo a ONU, os ataques dos colonos passaram de três para sete por dia.
No final de outubro, um agricultor que trabalhava nas oliveiras foi morto, indica a ONG israelense de direitos humanos B'Tselem.
Desde 7 de outubro, afirma B'Tselem, "aumentaram os incidentes nos quais palestinos são atacados por colonos violentos vestidos com uniformes militares e em posse de armas estatais".
Segundo a ONU, em quase metade dos casos de violência dos colonos "as forças de segurança israelenses lhes acompanharam ou apoiaram ativamente".
O Exército israelense assegurou que no caso do agricultor assassinado, "parece que um soldado fora de serviço participou". As autoridades competentes iniciaram uma investigação.
A AFP não viu nenhum colono nesse dia. Todos os agricultores palestinos rejeitaram ser citados ou filmados por medo de represálias.
No passado, este pequeno território que conta com cerca de 10 milhões de oliveiras, "a temporada da colheita de oliveiras era um verdadeiro festival, mas já não é o caso hoje", lamenta Suad Mahmud, da cidade de Dura Al Qarea.
"As oliveiras são muito importantes para nós, não poderíamos viver sem elas", afirma.
B.Ramirez--LGdM