Rússia perdoa ex-policial condenado por assassinato de jornalista
O ex-policial russo Sergei Khadzhikurbanov, condenado a 20 anos de prisão por seu papel no assassinato da jornalista Anna Politkovskaya em 2006, recebeu o indulto do presidente Vladimir Putin após se alistar nas forças da Rússia na Ucrânia, informou seu advogado à AFP nesta terça-feira (14).
Sergei Khadzhikurbanov foi uma das cinco pessoas presas por envolvimento no assassinato de Politkovskaya, que trabalhava para o jornal independente "Novaya Gazeta". Ela foi morta a tiros em 2006 no elevador de seu prédio em Moscou, aos 48 anos.
"Como combatente das forças especiais, [Khadzhikurbanov] foi convidado a assinar um contrato para participar da operação militar especial. O que ele fez", disse seu advogado, Alexei Mikhalchik, à AFP.
"Quando o contrato expirou, ele foi indultado por decreto presidencial", acrescentou.
Khadzhikurbanov assinou outro contrato como voluntário e ainda luta na Ucrânia, completou o advogado.
Milhares de prisioneiros foram enviados para o "front" desde que Moscou lançou sua ofensiva em fevereiro ao ano passado na Ucrânia.
Inicialmente, Khadzhikurbanov foi absolvido do assassinato de Politkovskaya em 2009. Depois, a Suprema Corte anulou o veredito original, e ele foi condenado em 2014 a 20 anos de prisão.
Se ele não tivesse sido perdoado, ficaria preso pelo menos até 2030, disse seu advogado.
Os filhos da jornalista e o conselho editorial do jornal "Novaya Gazeta", hoje proibido na Rússia, denunciaram uma "injustiça".
"Essa é uma monstruosa injustiça arbitrária, uma profanação da memória de uma pessoa assassinada por suas convicções e pelo cumprimento de seu dever profissional", lamentaram, em um comunicado conjunto.
- "Expiar com sangue" -
Politkovskaya era conhecida por suas críticas diretas ao Kremlin e denunciou, entre outros, supostos abusos cometidos pelo líder checheno Ramzan Kadirov. Também escreveu um livro sobre a ascensão do presidente Vladimir Putin ao poder.
Embora Khadzhikurbanov e outras quatro pessoas tenham sido presos pelo assassinato, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos criticou os investigadores russos, em 2018, por não terem investigado adequadamente quem cometeu o crime.
Politkovskaya escreveu livros e artigos, detalhando o que ela relatava como a brutalidade das forças de segurança russas e pró-russas durante a guerra da Chechênia. Teria sido intimidada pelo aliado de Putin, Kadirov, e por seus subordinados.
O indulto de Khadzhikurbanov, noticiado primeiramente pelos veículos RBC e Baza, surge em meio à polêmica sobre o uso de condenados no conflito da Ucrânia, em particular depois do controverso indulto a um homem que matou brutalmente a ex-namorada.
Na semana passada, o Kremlin reconheceu o uso de detentos para lutar no conflito e disse que os condenados que "expiarem seu crime no campo de batalha com sangue" poderiam ser perdoados.
"Estão expiando com sangue em brigadas de assalto, sob balas e projéteis", disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, na sexta-feira.
Em setembro, Putin disse que os prisioneiros russos mortos na Ucrânia se "redimiram" aos olhos da sociedade.
A Rússia recrutou cerca de 100 mil pessoas nos presídios, segundo estimativa de Olga Romanova, diretora de um grupo independente pelos direitos dos presos. A imprensa russa noticiou vários casos de prisioneiros libertados que cometeram crimes graves, incluindo assassinato, depois de deixarem o Exército.
E.Sanchez--LGdM