Israel sob pressão internacional após incursão militar em principal hospital de Gaza
O Exército israelense realizou, nesta quarta-feira (15), uma incursão no hospital Al Shifa, o maior da Faixa de Gaza, em busca de armas do movimento islamista Hamas, em uma operação que gerou críticas e preocupação internacional sobre os pacientes e milhares de deslocados que estão abrigados no local.
Segundo Israel, o Hamas utiliza o enorme complexo médico para esconder suas infraestruturas de comando, uma acusação corroborada por Washington e negada pelo movimento islamista.
As forças israelenses anunciaram uma "operação seletiva" na unidade hospitalar, que está há dias no centro dos confrontos.
De acordo com um jornalista que colabora com a AFP, as tropas de Israel se retiraram de Al Shifa na noite de quarta-feira e estabeleceram posição ao redor do local.
Na manhã do mesmo dia, dezenas de soldados israelenses entraram no hospital e pediram a "todos os homens com mais de 16 anos" que saíssem com "mãos para cima (...) e seguissem em direção ao pátio interno para rendição", segundo o repórter.
Os agentes israelenses foram de quarto em quarto, atirando para o alto, em busca de combatentes do Hamas. Cerca de 1.000 palestinos saíram para o pátio e alguns foram despidos e revistados em busca de armas ou explosivos.
O repórter informou que, antes de saírem do hospital, os soldados deixaram remédios, alimentos para lactantes e garrafas d'água.
Após a incursão, as forças de Israel afirmaram ter encontrado "armas e equipamentos militares" do Hamas no local, declarou seu porta-voz, Daniel Hagari.
Posteriormente, publicaram fotos de armas, granadas e outros artefatos de guerra, garantindo que foram obtidos em sua operação no hospital de Al Shifa. A AFP não conseguiu confirmar estas acusações com fontes independentes.
O Ministério de Saúde do Hamas afirmou, por sua vez, que o Exército israelense não encontrou "armas nem equipamentos militares" porque o grupo islamista "não autoriza" a posse de dispositivos bélicos nesses estabelecimentos.
Pela primeira vez desde o início da guerra, o Conselho de Segurança da ONU pediu, nesta quarta-feira, "pausas humanitárias" na Faixa de Gaza.
O texto da resolução, aprovado com 12 votos a favor e três abstenções de Estados Unidos, Rússia e Reino Unido, instou "a pausas e corredores humanitários amplos e urgentes por um número suficiente de dias" para permitir a chegada de ajuda humanitária aos civis da Faixa de Gaza.
- "Não demos aprovação" -
A comunidade internacional se demonstrou profundamente preocupada com os civis presos no interior do hospital Al Shifa.
"A proteção dos recém-nascidos, dos pacientes, do pessoal médico e de todos os civis deve ser prioridade sobre todas as outras questões", escreveu o subsecretário da ONU para Assuntos Humanitários, Martin Griffiths, na rede X.
O Hamas declarou que o presidente americano, Joe Biden, era "totalmente responsável" pelo ataque, visto que Washington apoiou as acusações de Israel, afirmando que tanto o grupo que governa a Faixa de Gaza como o seu aliado Jihad Islâmica "operam um núcleo de comando e controle de Al Shifa".
"Não demos aprovação às suas operações militares ao redor do hospital", disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby. "Sempre fomos muito claros com nossos parceiros israelenses sobre a importância de minimizar as perdas civis", acrescentou.
Nesta quarta-feira, o presidente francês, Emmanuel Macron, condenou os bombardeios "contra infraestruturas civis que devem ser protegidas pelo nosso direito internacional e pelo direito humanitário". Seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, denunciou o custo humano dos bombardeios de Israel. "Amaldiçoamos o governo israelense", afirmou.
O Catar, mediador das negociações para a libertação de reféns detidos pelo Hamas, exigiu "uma investigação internacional" sobre os ataques israelenses aos hospitais de Gaza e classificou a operação em Al Shifa como um "crime de guerra".
Testemunhas descreveram as terríveis condições dentro do hospital, onde segundo a ONU há 2.300 pessoas, com poucos suprimentos médicos e onde as famílias vivem com a escassez de água e alimentos, em meio ao cheiro de cadáveres em decomposição.
- "Não há nenhum lugar que não possamos alcançar" -
Em 7 de outubro, o Hamas executou um ataque surpresa no sul de Israel, no qual morreram quase 1.200 pessoas, além de ter sequestrado outras 240, segundo as autoridades israelenses.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o grupo islamista e bombardeia a Faixa de Gaza diariamente. Mais de 11.500 palestinos foram mortos nos ataques, incluindo mais de 4.700 menores de idade, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
O conflito em Gaza é "uma guerra contra a existência dos palestinos", declarou o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou, por sua vez, que "não há nenhum lugar em Gaza que não possamos alcançar", prometendo eliminar o Hamas e resgatar os reféns.
O gabinete de governo do premiê divulgou uma carta em que sua esposa, Sarah Netanyahu, afirmava que uma mulher sequestrada pelo grupo islamista deu à luz em cativeiro.
Além dos bombardeios e a incursão terrestre, a Faixa de Gaza está cercada por Israel desde 9 de outubro, o que deixou a população do território em condições humanitárias desastrosas, sem produtos básicos.
A ONU informou que 200.000 palestinos fugiram do norte do território desde 5 de novembro, após a abertura de "corredores" de saída por parte de Israel. A organização afirma que 1,65 milhão dos 2,4 milhões de habitantes da Faixa estão deslocados.
Nesta quarta-feira, Israel permitiu a entrada de quase 23.000 litros de combustível no território palestino, informou a agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA, na sigla em inglês), acrescentando que esta quantidade supre apenas 9% das necessidades diárias.
Martin Griffiths afirmou, por sua vez, que Israel decidiu não limitar o número de caminhões que transportam ajuda humanitária para Gaza.
Y.A. Ibarra--LGdM