Refugiados palestinos no Líbano temem por suas famílias em Gaza
Em um campo de refugiados palestinos em ruínas perto de Beirute, Hayat Shehadeh não tem notícias de sua filha em Gaza há uma semana e relata a angústia que sente ao assistir na televisão o noticiário sobre a guerra entre Israel e Hamas.
"Não consigo dormir. Acordo às três da manhã e assisto TV", afirma a mulher de 69 anos em seu apartamento do campo de Burj Barajneh.
"Às vezes, ela escreve 'estou bem'. E mais nada, porque não consegue recarregar a bateria do telefone", acrescenta, enquanto um de seus netos brinca no chão com uma bandeira palestina.
Ela tenta manter a calma e diz que a filha decidiu separar os três filhos, dividindo as crianças entre vários membros da família.
"Chorando, ela disse 'eu separo as crianças para que, se uma morrer, outra permaneça viva'", explica Hayat.
Nos becos do campo de refugiados, imagens do histórico líder palestino Yasser Arafat são observadas nas paredes, em alguns casos com frases de apoio ao "Dilúvio de Al Aqsa", o nome que o Hamas atribuiu ao ataque em território israelense que desencadeou a guerra.
O ataque de 7 de outubro deixou 1.200 mortos, a maioria civis, segundo as autoridades israelenses.
Os bombardeios de represália na Faixa de Gaza provocaram 12.000 mortos, em sua maioria civis, incluindo 5.000 menores de idade, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
O pequeno território palestino, submetido desde 9 de outubro a um "cerco completo" por Israel e alvo de bombardeios incessantes, não tem abastecimento de água, energia elétrica, alimentos e remédios.
As comunicações foram cortadas devido à falta de combustível para acionar os geradores.
Mais de 1,5 milhão de pessoas, o que representa mais da metade da população de Gaza, foram deslocadas pela guerra, segundo a ONU, que fez um alerta contra um "risco imediato de fome".
- Não resta nada -
Hayat explica que sua filha, de 30 anos, morava no Líbano, mas que há alguns meses "o marido veio e a levou" para Gaza.
"Ela muda de lugar e não sei onde está agora", acrescenta, antes de pedir que a jovem não seja identificada.
A família de Hayat, sobrevivente da "Nakba" ("catástrofe", como os árabes chamam a criação de Israel, que provocou a fuga de mais de 760.000 palestinos), se refugiou no Líbano em 1948.
Ela conta que os pais temiam por suas vidas, em particular depois do massacre de Deir Yasin, onde os grupos paramilitares judeus mataram mais de 100 pessoas em abril de 1948.
Ela nasceu no campo de Burj Barajneh, parcialmente destruído durante a invasão israelense do Líbano em 1982, e depois cercado por milícias em meados dos anos 1980, durante a guerra civil.
Segundo a agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA), quase 250.000 refugiados palestinos vivem no Líbano.
Em seu pequeno apartamento no campo, Fatima al Ashwah, 61 anos, também assiste TV e reza por seus familiares em Gaza.
Ela afirma que tem quase 70 parentes em Gaza, incluindo primos e suas famílias.
Os parentes moravam em Beit Hanun, norte da Faixa de Gaza, onde os residentes receberam ordens de saída do Exército israelense.
"As casas não existem mais. Não resta nada", explica.
Os familiares de Fatima seguem de um local para outro e alguns encontraram refúgio em escolas perto da passagem de Rafah, ao sul, na fronteira com o Egito.
Ela diz que ouviu as explosões de bombas durante os breves telefonemas que recebeu deles, quando contaram que estavam com fome, medo e que as crianças estavam aterrorizadas.
"A situação é de partir o coração", conclui.
S.Cisneros--LGdM