Israel enfrenta dilema de calibrar resposta após ataque do Irã
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, guarda silêncio após o ataque do Irã, e está sob pressão de seus aliados para calibrar uma resposta frente ao risco de uma escalada no Oriente Médio.
Netanyahu mantém o suspense após a chuva de drones e mísseis lançada por Israel na noite do último sábado, o primeiro ataque direto de Teerã ao território israelense, e sua resposta foi convocar seu gabinete de guerra e contactar seu principal aliado, os Estados Unidos.
O primeiro-ministro israelense fez uma breve declaração no X após o ataque, celebrando o sucesso do seu escudo contra mísseis e foguetes. Na noite de sábado, o ministro da Segurança Interna, Itamar Ben Gvir, um político de extrema direita do partido Poder Judaico, pediu uma ação "esmagadora".
O líder opositor Yair Lapid questionou os membros do gabinete, formado por uma coalizão de extrema direita, aos quais se somaram políticos de centro após o início do conflito contra o Hamas em Gaza, que se seguiu ao ataque de 7 de outubro. “Pedir aos ministros deste governo que adotem um comportamento responsável é uma missão impossível, mas, pelo menos, eles têm que parar de brandir ameaças ao Irã na mídia", publicou no X.
Os Estados Unidos afirmaram que desejam evitar uma propagação do conflito no Oriente Médio e alertaram que não vão participar de uma operação contra o Irã. Outros países aliados de Israel, como França e Reino Unido, que contribuíram para interceptar o ataque, também se distanciaram.
O Irã advertiu Israel que qualquer ação "temerária" terá uma resposta "muito mais forte".
- Resposta encoberta -
Israel, que corria o risco de ficar isolado devido às críticas à sua gestão do conflito com o Hamas, elogiou a cooperação de Estados Unidos, Reino Unido e França, com o apoio de países da região, para interceptar o ataque do Irã, sem a qual seu sistema de defesa, incluindo o escudo Domo de Ferro, poderia ter ficado sobrecarregado devido aos mísseis e drones iranianos.
Em setembro de 2022, Israel declarou sua intenção de formar “uma coalizão de dissuasão” contra o Irã e pediu a ajuda de vários países. Essa resposta é de grande valor para o país, depois que o secretário de Estado americano, Antony Blinken, alertou, no mês passado, para o risco de as ações na Faixa de Gaza "isolarem ainda mais Israel".
Para não incomodar os aliados, Israel poderia adiar uma possível represália. “Seria útil manter essa aliança de defesa ocidental, sunita e israelense quase sem precedentes, o que favorece uma moderação", ressaltou o ex-analista do Ministério das Relações Exteriores de Israel e vice-diretor da revista especializada Fathom, Calev Ben-Dor.
"Ao mesmo tempo, você não pode ser atacado por mais de 300 mísseis no Oriente Médio e não fazer nada”, acrescentou o especialista. “Acredito que Israel irá devolver o golpe em algum momento, provavelmente de forma mais encoberta do que pública, no momento e local que escolher."
O pesquisador do Instituto Francês de Relações Internacionais (Ifri) Jean-Loup Samaan projetou que não vai haver uma ação frontal, porque ela não contaria com a aprovação dos Estados Unidos.
Um diplomata de um país que participou da coalizão disse à AFP que ficou satisfeito com o fato de "uma linha dura" não ter sido imposta no fim de semana. Sobre o silêncio de Netanyahu, o ex-diplomata israelense Jeremy Issacharoff disse que “quanto menos se falar, melhor”.
“Acho que os iranianos deveriam estar preocupados e deve-se esconder deles tudo o que for possível. Ninguém deve dar a eles nenhuma garantia", afirmou.
Y.A. Ibarra--LGdM