Pedro Sánchez, uma carreira política dominada por reviravoltas
A carreira política do primeiro-ministro espanhol, o socialista Pedro Sánchez, é marcada por reviravoltas e resistência que voltaram a se apresentar nesta segunda-feira(29), quando confirmou de que seguirá no cargo após ameaçar uma renúncia.
"Aprendi a lutar até que o árbitro apite no final do jogo", disse o líder do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), grande fã do basquete, em sua autobiografia "Manual de Resistência".
Um fim que, de repente, parecia próximo depois que Sánchez, 52 anos, anunciou de surpresa na quarta-feira que analisava renunciar após saber da investigação contra sua esposa por suspeitas de tráfico de influência e corrupção.
O líder socialista, que denunciou uma "estratégia de perseguição e destruição" impulsionada por "interesses da direita e extrema direita", iniciou um período de reflexão pessoal que mergulhou o país na incerteza.
"Hoje, depois destes dias de reflexão, tenho uma resposta clara", disse nesta segunda-feira em uma esperada declaração na qual garantiu que continuará "com ainda mais força" à frente do Executivo.
No poder desde 2018, Sánchez negou qualquer "cálculo político" em sua decisão e voltou a defender sua esposa, atacada segundo ele por razões políticas.
"Ou dizemos basta ou esta degradação da vida pública determinará nosso futuro condenando-nos como país", acrescentou.
- Tenacidade -
Figura odiada pela oposição, Sánchez, apelidado de "El Guapo" no início da carreira, está acostumado a reverter situações difíceis.
Nascido em 29 de fevereiro de 1972 em Madri, filho de mãe funcionária pública e pai empresário, o economista fez doutorado em uma universidade privada de Madri - acusado de ter plagiado sua tese, o que nega - é membro do PSOE desde a adolescência.
Ainda quase desconhecido, tornou-se seu secretário-geral em 2014 graças aos votos dos militantes nas eleições primárias.
Dois anos depois, porém, sofreria um revés quando, após obter os piores resultados eleitorais da história do partido, foi afastado da liderança socialista por uma rebelião interna.
Mas graças ao apoio dos militantes, retornou com força em sete meses, após uma campanha em seu carro, ao lado de apoiadores, por toda a Espanha para convencer os socialistas de base, que o trariam de volta à liderança do partido.
Esta tenacidade o levaria ao poder em junho de 2018, após um novo golpe. Reunindo toda a esquerda, juntamente com os separatistas bascos e catalães, conseguiu derrubar o conservador Mariano Rajoy, enfraquecido por um escândalo de corrupção, com uma moção de censura, e tornar-se primeiro-ministro.
A falta de maioria estável acabou por obrigá-lo a convocar duas eleições legislativas consecutivas em 2019, nas quais venceu. Finalmente, decidiu formar um governo de coligação com os seus antigos inimigos próximos da esquerda radical do Podemos, com quem conseguiu permanecer no poder.
Apesar de governar em minoria, durante o seu mandato conseguiu promover um amplo conjunto de reformas, como o aumento de quase 50% do salário mínimo, uma reforma do mercado de trabalho e da previdência, além da lei que retoma a memória das vítimas da Guerra Civil (1936-1939) e da ditadura de Francisco Franco (1939-1975).
- Papel internacional -
Considerado novamente morto politicamente após um desastre da esquerda nas eleições locais de 28 de maio de 2023, Sánchez, um dos poucos socialistas à frente de um governo europeu, convocou imediatamente eleições gerais nas quais ficou em segundo lugar, atrás de seu adversário conservador, Alberto Núñez Feijóo.
Graças a longas negociações, conseguiu finalmente que o Parlamento o devolvesse ao poder, à custa de importantes concessões, incluindo uma controversa lei de anistia para os separatistas envolvidos na tentativa de secessão da Catalunha em 2017, à qual se opunha até então.
Este ex-membro do gabinete do alto representante da ONU na Bósnia, muito ativo a nível internacional, se destacou nos últimos meses por intensificar suas críticas à operação lançada por Israel em Gaza em retaliação ao ataque do Hamas em 7 de outubro e prometer que o seu país reconhecerá a Palestina como Estado.
T.Salinas--LGdM