La Gaceta De Mexico - 'Caminhei e caminhei', conta uma ucraniana de 97 anos, que fugiu sozinha de sua cidade

'Caminhei e caminhei', conta uma ucraniana de 97 anos, que fugiu sozinha de sua cidade
'Caminhei e caminhei', conta uma ucraniana de 97 anos, que fugiu sozinha de sua cidade / foto: © AFP

'Caminhei e caminhei', conta uma ucraniana de 97 anos, que fugiu sozinha de sua cidade

"Caminhei e caminhei (...) sofri muito". Lidia Lominovksa, de 97 anos, fugiu sozinha e a pé da cidade de Ocherétine, bombardeada e tomada pelas tropas russas no leste da Ucrânia.

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"Apenas Deus sabe quem bombardeou. Não vi ninguém, apenas escutei que algo havia sido disparado. Não sei onde foi nem quem foi", explica a mulher.

Do centro de acolhimento em Pokrovsk, conta lentamente sua partida em meio ao caos, sem levar nada, após um bombardeio.

A localidade, que tinha cerca de 3.000 habitantes antes da guerra, fica uns 12 km ao norte de Avdiivka e foi intensamente bombardeada nos últimos dias.

As tropas russas controlam agora uma grande parte da cidade e avançam a outras localidades do leste desta ex-república soviética, invadida por Moscou em fevereiro de 2022.

Quando Lominovksa decidiu caminhar, cruzou uma cidade quase em ruínas com corpos de soldados abandonados no chão. "Caminho e vejo um soldado caído, já morto, ao menos [seu corpo] estava coberto. Outro estava estirado, mas não estava coberto", lembra.

"Quase tudo estava em chamas. Hoje, ouvi dizer que [os russos] controlam a metade [da cidade]. Não sei o que acontece. A incendiaram. Queimaram muitas casas", prossegue.

- "Avó, aonde vai?" -

"Sofri tanto! Caminhava e não havia ninguém. Apenas ouvi disparos. Pensei que iriam me acertar enquanto arrastava os pés", conta.

Com ajuda de um pedaço de madeira utilizado como bengala, Lominovksa avançou pela pequena estrada que leva a Pokrovsk, cerca de trinta quilômetros a oeste de Ocherétine.

"Não tenho relógio, não tenho nada. Caminhei muito tempo. Caminhei, caminhei, sem voltar", descreve a mulher.

Após várias horas, Lominovksa encontrou dois soldados ucranianos em um veículo e que a ajudaram.

"Avó, aonde vai?", lhe perguntaram. "Eu contestei: irei tão longe quanto puder, logo cairei no pasto e passarei a noite lá", conta a idosa.

"Os soldados me deram dois sanduíches. Comi um. Já não tinham força para comer", indica.

Os militares chamaram os policiais que a levaram a Pokrovsk. Segundo Pavlo Diachenko, porta-voz do corpo armado na região, a senhora "percorreu uma distância de cerca de 10 quilômetros".

Segundo o porta-voz, Ocherétine está destruída e a idosa é uma das últimas pessoas a deixar a cidade.

"Ainda há algumas pessoas, mas não sabemos quantas, nem se estão vivas ou mortas", explica.

Nas cidades dos arredores, a situação é extremamente difícil porque "os bombardeios inimigos não param", indica o policial.

O Exército ucraniano, que fracassou em sua grande contraofensiva lançada no verão passado, enfrenta o incessante impulso russo desde a tomada de Avdiivka em fevereiro.

O comandante-chefe das forças armadas ucranianas, Oleksandr Syrsky, reconheceu no domingo que a situação no front "piorou" e que as tropas russas, superiores em soldados e munições, registraram "avanços táticos" em diversas regiões.

E.Sanchez--LGdM