Universidade de Columbia ameaça expulsar alunos que ocupam edifício por guerra em Gaza
A Universidade de Columbia, em Nova York, disse nesta terça-feira (30) que os estudantes que ocupam um edifício do campus como parte de protestos pró-palestinos correm o risco de serem expulsos, a última medida em um enfrentamento com as autoridades do centro de ensino.
"Os estudantes que ocupam o edifício correm o risco de expulsão", informou o escritório de relações públicas da universidade em um comunicado, acrescentando que foi oferecida aos manifestantes "a oportunidade de saírem pacificamente", mas, em vez disso, eles a rejeitaram e agravaram a situação.
A ocupação do Hamilton Hall da prestigiada instituição ocorreu horas depois que as autoridades de centro de ensino anunciaram o início da suspensão de estudantes por não cumprirem uma ordem de retirada do acampamento que haviam montado nos jardins do campus.
Jovens com os rostos cobertos quebraram janelas e bloquearam as entradas do edifício com mesas de metal, segundo imagens compartilhadas nas redes sociais.
"Após 206 dias de genocídio e mais de 34 mil mártires palestinos, membros da comunidade de Columbia recuperaram o Hamilton Hall pouco depois da meia-noite", afirmou o grupo em um comunicado. Eles também renomearam o edifício como "Hind's Hall", em homenagem a uma menina de seis anos morta na ofensiva israelense contra o grupo islamista palestino Hamas na Faixa de Gaza.
Os manifestantes declararam que permanecerão no prédio até que suas exigências sejam cumpridas, uma delas que a universidade desfaça todo o envolvimento financeiro ligado a Israel.
A instituição rejeitou tal demanda e, na segunda-feira, a reitora Minouche Shafik afirmou que "não houve acordo" com os estudantes, segundo um comunicado.
Hoje, quando uma pequena multidão começava a ser formar do lado de fora da universidade, uma pequena presença policial se instalou no campus de Columbia, conforme comprovou a AFP.
"Como dissemos ontem, as interrupções no campus criaram um ambiente ameaçador para muitos de nossos alunos e professores judeus", afirmou o porta-voz de Columbia, Ben Chang, que acusou os integrantes da ocupação de atos de "vandalismo".
A ação dos estudantes foi condenada pelo presidente Joe Biden, que havia pedido a garantia da liberdade de expressão, mas também que atos de antissemitismo fossem evitados.
"O presidente acredita que tomar um edifício do campus à força é absolutamente a abordagem errada", disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, John Kirby. "Não é um exemplo de protesto pacífico", acrescentou.
- Manifestações de costa à costa -
Os protestos se espalharam por instituições de ensino superior de leste a oeste. Muitos manifestantes montaram acampamentos nos gramados dos campi depois que cerca de 100 pessoas foram presas pela primeira vez em Columbia, no dia 18 de abril.
Na Universidade do Texas, em Austin, a polícia entrou em confronto com manifestantes na segunda-feira, no qual fizeram o uso de spray de pimenta e prenderam ativistas enquanto desmantelavam um acampamento. Ao todo, mais de 350 pessoas foram detidas em todo o país no fim de semana.
Paul Quinzi, da associação de advogados de Austin que oferece assistência aos detidos, disse à AFP que os número indicam "pelo menos 80 prisões".
Os protestos contra a guerra em Gaza apresentam um desafio para as autoridades universitárias, que devem equilibrar o direito à liberdade de expressão com as queixas de que as concentrações derivaram em ódio e antissemitismo.
- 'Direito de reunião pacífica' -
O alto comissário das Nações Unidas para os direitos humanos, Volker Türk, expressou nesta terça-feira sua preocupação com as duras medidas tomadas para dispersar os protestos, afirmando que "a liberdade de expressão e o direito à reunião pacífica são fundamentais para a sociedade".
Türk acrescentou que "a incitação à violência e ao ódio por motivos de identidade ou pontos de vista, sejam reais ou supostos, deve ser repudiada energicamente".
Em sua declaração de ontem, a reitora Shafik disse: "Muitos de nossos estudantes judeus, e também outros estudantes, se depararam com uma atmosfera intolerável nas últimas semanas. Muitos abandonaram o campus e isso é uma tragédia", apontou, ao acrescentar que "o linguajar e os atos antissemitas são inaceitáveis".
Organizadores dos protestos negam as acusações de antissemitismo, argumentando que suas ações são dirigidas ao governo israelense e à forma como este lida com o conflito em Gaza.
A guerra eclodiu com o ataque sem precedentes do Hamas a Israel em 7 de outubro, que deixou 1.170 mortos, a maioria civis, segundo um balanço da AFP com dados oficiais israelenses.
Por sua vez, a represália israelense já matou pelo menos 34.535 pessoas em Gaza, majoritariamente mulheres e crianças, segundo o Ministério da Saúde do território administrado pelo grupo islamista.
S.Olivares--LGdM