Blinken promete milhões para América Latina e sanções a quem facilitar 'migração irregular'
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, advertiu nesta terça-feira (7) que Washington sancionará quem facilitar a "migração irregular", tema central na campanha eleitoral americana, e anunciou US$ 578 milhões (R$ 2,95 bilhões) em ajuda para a América Latina, em uma conferência continental na Guatemala.
Cerca de 2,8 milhões de migrantes entram irregularmente nos Estados Unidos todos os anos, aumentando a pressão sobre o presidente e candidato à reeleição em novembro, o democrata Joe Biden, enquanto os republicanos liderados por seu rival Donald Trump o acusam de não fazer nada para acabar com o problema.
A "nova política de restrição de vistos destina-se a pessoas que conscientemente fornecem transporte a quem pretende migrar irregularmente aos Estados Unidos, incluindo voos fretados que chegam à Nicarágua", disse Blinken na conferência presidida pelo mandatário guatemalteco, Bernardo Arévalo.
O secretário de Estado americano também destacou o anúncio de Washington na segunda-feira, sobre "restrições de vistos a executivos de empresas colombianas de migração marítima que estão facilitando a migração irregular".
Além disso, Blinken prometeu no evento na Guatemala "578 milhões [de dólares] em assistência humanitária" à região, informou Marcela Escobari, assistente especial de Biden, em coletiva de imprensa por telefone.
Esse dinheiro será destinado aos "países parceiros [no esforço por uma migração legal e ordenada] e às comunidades de acolhimento [de migrantes] na resposta a necessidades humanitárias urgentes", indicou a Casa Branca em comunicado.
- 'Escolha, e não obrigação' -
Participaram do encontro no país centro-americano ministros das Relações Exteriores e outros altos funcionários de cerca de 20 países signatários da Declaração sobre Migração e Proteção firmada em Los Angeles, nos Estados Unidos, na Cúpula das Américas de 2022.
Ao término do encontro, o chanceler da Guatemala, Carlos Ramiro Martínez, fez um balanço do tratado, sem anunciar nenhuma medida concreta, e esclareceu que os ministros não discutiram o tema dos voos charter da Nicarágua.
No entanto, Marcela Escobari destacou como conquistas concretas a ajuda financeira anunciada por Blinken e a expansão de alianças para "dissuadir a imigração irregular".
Por sua vez, a chanceler mexicana Alicia Bárcena afirmou em seu discurso que "a migração tem que ser uma escolha, e não uma obrigação. Por isso, nossa primeira prioridade é atender as causas estruturais".
- Ponte aérea na Nicarágua -
A América Central também enfrenta complicações pelas centenas de milhares de migrantes, a maioria venezuelanos, que viajam através do istmo para os Estados Unidos, atravessando a pé a inóspita floresta do Darién, na fronteira entre Colômbia e Panamá.
Contudo, os migrantes que rumam para os Estados Unidos não chegam apenas por terra à América Central, mas também por mar e ar, pois a Nicarágua agora serve de ponte aérea com voos charter e comerciais usados por migrantes asiáticos e africanos que buscam evitar o Darién, segundo funcionários americanos e analistas centro-americanos.
De fato, o governo de Daniel Ortega tem se tornado cada vez mais flexível para emitir vistos a cidadãos de alguns países desses continentes, segundo as mesmas fontes.
Também há relatos de embarcações com migrantes que zarpam da ilha colombiana de San Andrés, situada no Caribe, rumo à América Central.
O subsecretário de Política Fronteiriça e Imigração de Departamento de Segurança Doméstica dos Estados Unidos, Blas Nuñez-Neto, indicou que existem alianças entre narcotraficantes e grupos que "se especializam em mover as pessoas".
"Atualmente [...] é quase impossível chegar à fronteira dos Estados Unidos sem passar pelas mãos dos cartéis e dos narcotraficantes, em todos os países da região", afirmou Nuñez-Neto na mesma coletiva de imprensa por telefone.
A Nicarágua não compareceu à conferência e não assinou a Declaração de 2022, pois nem sequer foi convidada à Cúpula de Los Angeles.
- Perigos no Darién -
Em 2023, mais de meio milhão de migrantes - principalmente venezuelanos, mas também asiáticos e africanos - atravessou a floresta do Darién, onde operam organizações criminosas que atacam, estupram e matam os viajantes indefesos.
Os migrantes que cruzam o Darién a pé estão expostos a "tráfico de pessoas, roubo de pertences e dinheiro, extorsão, violência sexual", entre outros perigos, segundo a Defensoria do Povo da Colômbia.
Entre os migrantes que chegam aos Estados Unidos também há milhares de centro-americanos que deixam seus países fugindo da pobreza, da falta de emprego, dos baixos salários e da violência criminal.
A.Soto--LGdM