Israel bombardeia Rafah apesar de ameaça dos EUA de reduzir ajuda militar
Israel continuava bombardeando Gaza nesta quinta-feira (9), inclusive Rafah, apesar da ameaça dos Estados Unidos de suspender o envio de certos tipos de armas se o governo de Benjamin Netanyahu ordenar a invasão dessa cidade do sul do território palestino em sua guerra contra o Hamas.
O destino de Rafah, na fronteira com o Egito, assim como o dos reféns capturados em 7 de outubro em Israel por combatentes islamistas, são o foco das negociações indiretas no Cairo para alcançar uma trégua, após sete meses de um conflito que devastou a Faixa de Gaza.
Representantes do Hamas e de Israel partiram do Cairo "após uma rodada de negociações de dois dias", mas os mediadores - Egito, Catar e EUA - "seguem tentando aproximar os pontos de vista das duas partes", informou a Al Qahera News, um meio de comunicação vinculado à inteligência egípcia.
Segundo a Agência da ONU para Refugiados Palestinos (UNRWA), cerca de 80 mil pessoas fugiram de Rafah desde 6 de maio, quando Israel intimou a evacuação do leste da cidade, onde estima estarem os últimos batalhões do Hamas.
Israel assumiu na terça-feira o controle do lado palestino da passagem de Rafah, crucial para a entrada de ajuda humanitária, e ameaça ampliar sua ofensiva para toda a cidade, onde, segundo a ONU, 1,4 milhão de palestinos estão aglomerados, a maioria deslocada pela guerra.
Uma equipe da AFP ouviu nesta quinta-feira disparos de artilharia em Rafah.
"Há disparos ininterruptos e indiscriminados de artilharia israelense no leste e centro de Rafah, que deixaram muitos mortos e feridos", indicou também Ahmed Radwan, um funcionário da Defesa Civil em Gaza.
"Até mesmo as áreas apresentadas como seguras pelo exército israelense estão sendo bombardeadas", afirmou um residente da cidade, Mouhanad Ahmad Qishta.
O exército israelense relatou ter bombardeado "posições do Hamas" no centro da Faixa e que três de seus soldados ficaram "levemente feridos" quando um dispositivo explosivo camuflado explodiu no setor leste de Rafah.
- Biden eleva o tom -
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ameaçou suspender o envio de projéteis de artilharia e outras armas para Israel "se entrarem em Rafah".
"Civis morreram em Gaza como consequência dessas bombas" e isso "está errado", declarou Biden em uma entrevista à CNN.
Netanyahu afirmou à noite que Israel estava determinado a "se manter sozinho".
Washington, principal aliado de Israel, já suspendeu o envio de bombas pesadas, disse na quarta-feira um funcionário de alto escalão dos EUA.
Nesta quinta, Netanyahu indicou que Israel estava disposto a lutar por seus próprios meios contra o Hamas.
"Se precisarmos ficar sozinhos, ficaremos", afirmou, sem se referir explicitamente às declarações de Biden.
- Passagens fechadas -
As operações militares israelenses em Rafah "visam obstruir os esforços dos mediadores", disse em um comunicado Ezzat al-Rishq, membro do gabinete político do Hamas.
O exército israelense afirma estar preparando uma ofensiva "limitada" em Rafah, que, segundo sua inteligência, abriga o último reduto do Hamas.
As tropas israelenses também fecharam por três dias a passagem de fronteira de Kerem Shalom, perto de Rafah.
Vários países têm lançado desde fevereiro ajuda por paraquedas para tentar aliviar a crise humanitária em Gaza. Mas as autoridades do Hamas voltaram a pedir nesta quinta-feira o fim dessas operações, após a morte de duas pessoas esmagadas por um telhado que desabou devido ao peso de um desses envios.
Um navio cargueiro com ajuda partiu do Chipre com destino a Gaza, informou o porta-voz do governo desta ilha mediterrânea.
Os alimentos serão descarregados em um cais temporário construído pelos Estados Unidos.
- Pontos de discordância -
O conflito eclodiu em 7 de outubro, quando comandos islamistas infiltraram-se no sul de Israel, matando 1.170 pessoas e sequestrando cerca de 250, segundo um balanço da AFP baseado em dados oficiais.
Em retaliação, Israel iniciou uma ofensiva que já deixou 34.904 mortos em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território governado desde 2007 pelo Hamas.
O grupo islamista, considerado uma organização terrorista por Israel, Estados Unidos e União Europeia, deu luz verde a uma proposta de acordo apresentada pelos países mediadores.
Segundo Khalil al Hayya, do alto escalão do Hamas, a proposta contempla três fases, de 42 dias cada, e inclui uma retirada total de Israel de Gaza e a troca de reféns por prisioneiros palestinos, com o objetivo de um "cessar-fogo permanente".
Mas Israel considerou essas condições "muito distantes de suas exigências" e reiterou sua oposição a um cessar-fogo definitivo até que o Hamas seja derrotado.
E.Dorame--LGdM