Ministério Público do Peru interroga presidente por 'Rolexgate' em meio a novo escândalo
A presidente do Peru, Dina Boluarte, compareceu nesta quarta-feira (15) diante dos promotores que a investigam pelo "Rolexgate", suposto caso de corrupção envolvendo seu já enfraquecido governo.
Esta é a segunda vez que Dina é convocada a depor desde que o escândalo estourou, em março, por causa de relógios de luxo da marca Rolex e joias que ela não incluiu em sua relação de bens. Depois de uma hora de interrogatório na sede do Ministério Público (MP), em Lima, a presidente deixou o local sem dar declarações.
Nos arredores do prédio vigiado pela polícia, uma dúzia de manifestantes gritavam pedindo a sua renúncia. "Essa canalha não pode ficar até 2026. Não podemos suportar esse governo", disse Maria Maldonado, 52.
O MP investiga Dina por suposto enriquecimento ilícito e por não registrar seus bens em documentos. Ela também está sendo investigado por "suborno passivo impróprio", um crime que envolve o recebimento de benefícios indevidos por funcionários.
“Não temos nada a esconder e compareceremos quantas vezes for necessário ao Ministério Público, prestando declarações quando nos for solicitado”, comentou o chefe de gabinete, Gustavo Adrianzén.
Em seu primeiro depoimento ao MP, em 5 de abril, Dina informou que os relógios Rolex foram emprestados a ela por seu amigo e governador regional de Ayacucho, Wilfredo Oscorima.
Se o MP decidir acusá-la, Dina só poderá ser levada a julgamento após o fim do seu mandato, em julho de 2026, segundo a Constituição.
- Sequência de escândalos -
Desde a última sexta-feira, a presidente enfrenta um novo escândalo de corrupção envolvendo seu irmão mais velho, Nicanor Boluarte, que naquele dia foi detido preliminarmente por até 10 dias por ordem de um juiz.
Nicanor é suspeito de comandar uma rede de corrupção que nomeava funcionários em troca de subornos, aproveitando o "poder de fato" que recebeu de sua irmã, de acordo com o Judiciário.
Enquanto responde perante a Justiça, Dina enfrenta uma nova tentativa da oposição minoritária de esquerda de submetê-la a um julgamento de destituição no Congresso. A presidente, cuja desaprovação chega a 88% de acordo com uma pesquisa recente da Ipsos, não tem sua própria bancada e partido, portanto, o apoio das forças conservadoras é fundamental para que ela possa concluir seu mandato em julho de 2026.
"Vamos continuar caminhando até 28 de julho de 2026! Porque aqui o povo escolheu uma chapa presidencial e, de acordo com a Constituição, isso deve ser respeitado", disse ela ontem, em ato público.
Com Dina Boluarte, são seis os presidentes peruanos envolvidos em casos de corrupção nos útlimos 25 anos. Em apenas oito anos, o Peru teve seis presidentes, em meio à pior onda de instabilidade em sua história moderna.
- Promotores contra a presidente -
Diante das ações do MP, o governo ordenou surpreendentemente a dissolução da unidade policial que apoiava a equipe de promotores anticorrupção que realizou buscas na casa de Dina e no gabinete da presidente em março em busca das joias. A mesma equipe estava encarregada da operação para capturar Nicanor Boluarte.
A presidente assumiu o cargo em dezembro de 2022, substituindo o esquerdista Pedro Castillo, que sofreu impeachment e foi preso por sua tentativa fracassada de dissolver o Congresso. Bolaurte era sua vice-presidente.
Após sua posse, eclodiram protestos que foram severamente reprimidos pelas forças de segurança, nos quais 50 pessoas teriam sido mortas a tiros por policiais e militares.
Como resultado, Dina é investigada desde janeiro de 2023 por suposto "genocídio, homicídio agravado e lesão corporal grave".
"Entrei no palácio do governo com as mãos limpas e sairei com as mãos limpas, como prometi ao povo peruano", disse em abril a primeira mulher presidente do Peru.
Y.A. Ibarra--LGdM