Israel pede aos habitantes de Gaza que deixem a cidade
Israel pediu nesta quarta-feira (10) aos habitantes de Gaza que deixem a cidade, onde suas tropas mantêm uma ofensiva contra o movimento islamita palestino Hamas, após mais de nove meses de uma guerra que devastou o território.
Após meses de paralisação, as negociações para um cessar-fogo e a libertação dos reféns - mediadas por Catar, EUA e Egito - são retomadas em Doha. Uma delegação israelense liderada pelo chefe do serviço de inteligência, David Barnea, chegou hoje à cidade. Também é esperada a participação do chefe da CIA.
Nos últimos dias, o Exército israelense retomou as operações no norte da Faixa de Gaza, depois de afirmar, em janeiro, que havia desmantelado o comando do Hamas nessa área do território.
"Os soldados fizeram uma operação contra terroristas do Hamas e da Jihad Islâmica que usavam a sede da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos (UNRWA) em Gaza como base para executar ataques", afirmou o Exército.
Os soldados "eliminaram terroristas durante os combates e localizaram grandes quantidades de armas", acrescenta a nota. A diretora de Comunicação da UNRWA, Juliette Touma, disse que é difícil saber se havia pessoas refugiadas nas instalações.
O Exército israelense iniciou em 27 de junho uma operação terrestre no bairro de Shujaiyia, leste da cidade, antes de ampliar a ofensiva para o centro da localidade, onde "dezenas de milhares de pessoas" receberam instruções para abandonar a região, segundo a ONU.
Em panfletos lançados nesta quarta-feira, o Exército pediu a "todas as pessoas presentes em Gaza" que sigam para o sul da Faixa usando "corredores de segurança".
- 'Onde vamos parar?' -
Philippe Lazzarini, diretor da UNRWA, alertou que não há mais local seguro no território palestino, governado pelo Hamas desde 2007 e onde 80% dos 2,4 milhões de habitantes foram deslocados.
Um Nimr Al Amal fugiu de Gaza com a família. "É a 12ª vez. Quantas vezes ainda teremos que aguentar? Mil? Onde vamos parar? Não tenho mais energia, não consigo mais", queixou-se.
O conflito começou em 7 de outubro, quando comandos islamistas mataram 1.195 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo um levantamento da AFP com base em dados oficiais israelenses.
O Exército israelense calcula que 116 pessoas permanecem em cativeiro em Gaza, incluindo 42 que estariam mortas.
Em resposta, Israel prometeu "aniquilar" o Hamas e iniciou uma ofensiva em Gaza que já matou 38.295 pessoas, também civis em sua maioria, segundo o Ministério da Saúde do território.
"Eliminamos ou ferimos 60% dos terroristas do Hamas desde o início da guerra", afirmou o ministro israelense da Defesa, Yoav Gallant.
Quatro palestinos morreram nesta quarta-feira em bombardeios israelenses em Nuseirat, centro do território, e dois morreram em Khan Yunis, sul, segundo fonte médicas.
- Escolas bombardeadas -
Um total de 29 pessoas morreram ontem, incluindo crianças, em um bombardeio israelense contra uma escola em Abasan, segundo uma fonte médica e funcionários do Hamas. O Exército israelense afirmou que os bombardeios tinham terroristas como alvo.
As escolas de Gaza “se convertem com frequência em locais de morte e miséria. A cidade não é um lugar para crianças", disse Philippe Lazzarini. França e Alemanha condenaram os ataques contra escolas.
Israel e o Hamas divergem sobre como alcançar uma trégua. O premier israelense, Benjamin Netanyahu, reuniu-se em Jerusalém com o coordenador da Casa Branca para o Oriente Médio, Brett McGurk.
Netanyahu reiterou seu compromisso com um acordo de cessar-fogo “desde que as linhas vermelhas de Israel sejam respeitadas”. O líder afirmou em diversas ocasiões que não vai encerrar a guerra até a a destruição do Hamas e a libertação de todos os reféns.
O funcionário do alto escalão do Hamas Hosam Badran disse hoje à AFP que a intensificação do que chamou de “massacres” israelenses em Gaza reforça as exigências do movimento islamita. “Não sabemos ao certo aonde as negociações chegarão, apesar da flexibilidade que mostramos", disse Badran, que acusou Netanyahu de dificultá-las.
H.Jimenez--LGdM