Socorristas encontram dezenas de mortos na Cidade de Gaza após incursões israelenses
A agência de Defesa Civil palestina afirmou nesta sexta-feira (12) que encontrou quase 60 corpos em dois bairros da Cidade de Gaza após a retirada das tropas israelenses que travavam uma dura ofensiva contra o Hamas.
Depois de mais de nove meses de guerra entre Israel e o movimento islamista palestino Hamas, os combates continuam de norte a sul da Faixa de Gaza, mas o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmou que há "progressos" na negociação por uma trégua.
No sudoeste da Cidade de Gaza, foram encontrados nesta sexta "cerca de 60" corpos nos bairros de Tal al Hawa e Al Sinaa, indicou a Defesa Civil.
Segundo o porta-voz dessa agência, Mahmud Basal, a descoberta aconteceu após a saída das tropas de Israel, mas o Exército israelense não confirmou sua retirada desses bairros da Cidade de Gaza.
Segundo Basal, dezenas de corpos foram encontrados "nas estradas e entre escombros" e muitas casas foram destruídas nessas duas áreas da cidade e outras incendiadas.
A Defesa Civil do território palestino anunciou na quinta-feira que exumou quase 60 corpos em Shujaiya, outro bairro da Cidade de Gaza que foi palco de violentos confrontos entre combatentes do Hamas e soldados israelenses.
O Exército de Israel anunciou na quarta-feira que se retirou de Shujaiya, onde lançou uma ofensiva em 27 de junho, forçando dezenas de milhares de pessoas a fugir.
Segundo o Exército, a operação militar destruiu oito túneis e matou "dezenas de terroristas".
- 'Corpos nas estradas' -
Além de Shujaiya, tropas e tanques israelenses entraram em outros bairros da Cidade de Gaza para combater milicianos do Hamas e da Jihad Islâmica, e entraram inclusive no complexo de uma sede desocupada da Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina (UNRWA).
Segundo Louise Wateridge, porta-voz da UNRWA, as incursões do Exército israelense em diversos bairros da Cidade de Gaza deixaram um panorama "apocalíptico".
O Exército israelense, entretanto, acusou novamente essa agência da ONU de "se calar quando o Hamas utiliza suas infraestruturas" na cidade.
A UNRWA foi expulsa de sua sede na Cidade de Gaza e "não tem presença oficial ali desde outubro", afirmou Wateridge à AFP, garantindo que não tem informações a respeito.
O Exército israelense ordenou na quarta-feira a evacuação da Cidade de Gaza, uma área que abriga até 350 mil pessoas, segundo a ONU.
"Fui deslocada quatro vezes", disse Umm Ihab Arafat. Sentada com os filhos entre os escombros, ela implorou por descanso em meio ao barulho incessante de drones israelenses.
"Meus filhos têm direito ao descanso, seus olhos estão cheios de horror e medo", afirmou a mulher.
O conflito em Gaza eclodiu em 7 de outubro, quando comandos islamistas mataram 1.195 pessoas, a maioria civis, e sequestraram 251 no sul de Israel, segundo balanço da AFP baseado em dados oficiais israelenses.
Em resposta, Israel lançou uma ofensiva que já matou 38.345 pessoas em Gaza, a maioria civis, segundo o Ministério da Saúde do território, governado pelo Hamas desde 2007.
No bairro de Al Rimal, na Cidade de Gaza, Tariq Ghanem, um professor de 57 anos, afirmou que as tropas israelenses causaram "destruição maciça" e que "casas estão queimando e há projéteis por todas as partes".
"Há uma semana há corpos nas estradas e [...] ninguém que os recolha", relatou.
- 'Progressos' nas negociações -
O presidente americano, Joe Biden, declarou na quinta-feira que há "progressos" nas negociações de cessar-fogo promovidas por Egito, Catar e Estados Unidos, mas que são questões "difíceis e complexas".
Em meio às negociações indiretas, o Hamas propôs que um governo palestino independente dirigisse a Faixa de Gaza após a guerra, informou Hossam Badran, membro do comitê político do movimento islamista, em um comunicado.
"A administração de Gaza depois da guerra é um assunto interno palestino que não deve sofrer qualquer interferência externa e não conversaremos em Gaza [após a guerra] com qualquer parte estrangeira", afirmou Badran.
O Hamas anunciou no domingo que o movimento não exige mais um cessar-fogo permanente para negociar a libertação dos reféns, um requisito que sempre insistiu.
O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, prometeu que não vai acabar com a guerra até libertar todos os reféns e destruir o Hamas, uma organização que considera "terrorista", denominação compartilhada pelos Estados Unidos e pela União Europeia.
Nesta sexta, Netanyahu afirmou que segue comprometido com o "plano de libertação dos reféns", mas assinalou que "o Hamas continua apresentando exigências que variam" e "que colocam em risco a segurança de Israel".
A.M. de Leon--LGdM