

Bolsonaro diz que eleição sem ele é "negar a democracia"
O ex-presidente Jair Bolsonaro, que enfrenta a possibilidade de julgamento por suposta tentativa de golpe de Estado e está inelegível até 2030 por decisão da Justiça, afirmou neste domingo (16) a milhares de seguidores que seu caso equivale a "negar a democracia".
"Quero dizer àqueles que não gostam de mim lá em Brasília: eleições sem Bolsonaro é negar a democracia no Brasil", afirmou durante uma manifestação na praia de Copacabana, Rio de Janeiro.
Bolsonaro chegou às 10h15 ao palco, abrindo caminho entre manifestantes vestidos de verde e amarelo.
Diante dos apoiadores que o acolheram ao grito de "Mito!" e com um discurso menos agressivo do que de costume, Bolsonaro deixou para seus aliados o papel de dirigir ataques contra os críticos.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), seu filho mais velho, chamou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "ladrão", enquanto o pastor evangélico Silas Malafaia qualificou de "criminoso" o magistrado Alexandre de Moraes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) responsável pelo caso que pode resultar em um processo penal contra o ex-presidente.
Segundo estimativas de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), baseadas em análises computadorizadas de imagens aéreas, cerca de 18 mil pessoas se reuniram neste domingo na orla de Copacabana, longe do "milhão" esperado por Bolsonaro.
Em abril de 2024, outra manifestação no mesmo local reuniu 32 mil pessoas, segundo o mesmo método de cálculo. Uma nova concentração está prevista para 6 de abril em São Paulo.
"Estou aqui porque quero deixar um Brasil melhor para meus filhos. Vivemos um momento sombrio", declarou à AFP um dos manifestantes, José de Souza Vitorino, ex-militar de 64 anos.
O lema do evento é pedir uma "anistia" para as pessoas condenadas por envolvimento nos distúrbios de 8 de janeiro de 2023 em Brasília.
Na data, milhares de bolsonaristas invadiram e vandalizaram o Palácio do Planalto, o Congresso e a sede do STF, uma semana após a posse do presidente Lula.
Enquanto Bolsonaro estava nos Estados Unidos, seus simpatizantes exigiam uma intervenção militar para derrubar Lula, que derrotou o ex-presidente nas eleições de 2022.
Os ataques de 8 de janeiro são uma das razões que levaram a Procuradoria-Geral da República (PGR) a acusar o ex-presidente em fevereiro por um suposto plano de golpe de Estado para tentar permanecer no poder.
Ele é acusado de ser o líder de uma "organização criminosa" que conspirou durante meses com este propósito. Bolsonaro pode enfrentar uma pena acumulada superior a 40 anos de prisão.
- Candidato "por enquanto" -
Na quinta-feira, a PGR rejeitou os argumentos da defesa, que alegava que o STF não tem competência para julgar o ex-presidente, ao lado de outras 33 pessoas, incluindo ex-ministros e comandantes militares.
A próxima etapa acontecerá em 25 de março, quando o STF examinará se existem elementos suficientes para iniciar um julgamento.
Bolsonaro, 69 anos, afirma que é vítima de uma "perseguição" política para impedir sua candidatura nas eleições presidenciais de 2026.
Ele foi declarado inelegível até 2030 por questionar a confiabilidade do sistema brasileiro de urnas eletrônicas, mas espera que a condenação seja anulada para se candidatar a um segundo mandato presidencial.
"Por enquanto, sou candidato", reiterou na quarta-feira. "Por que eu teria que abrir mão do meu capital político para apoiar alguém?", questionou.
Bolsonaro sonha com um retorno ao estilo Donald Trump, que retornou à Casa Branca apesar de seus problemas judiciais, e espera que o presidente americano exerça "influência" a seu favor.
Na manifestação, um cartaz mostrava o presidente americano com o punho erguido, após o ataque que sofreu em julho do ano passado, durante a campanha presidencial.
- "Recado para os concorrentes" -
Para o analista político André Rosa, trata-se de "um recado do Bolsonaro para os concorrentes dentro da centro-direita (...), uma forma dele carimbar que é o candidato de 2026".
Bolsonaro resiste a apoiar outro candidato, embora tenha mencionado como possíveis sucessores sua esposa, Michelle, e seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
No entanto, outras figuras se destacam, como o governador do estado de São Paulo e ex-ministro de Bolsonaro, Tarcísio de Freitas, e o cantor Gusttavo Lima.
"Ele segue atuante e com esperança de que tenha condições jurídicas pra disputar as eleições", explicou Rosa à AFP.
A incerteza também afeta a esquerda: Lula, de 79 anos e com uma popularidade prejudicada principalmente pela inflação, mantém um discurso ambíguo sobre suas intenções de disputar a reeleição.
Ao mesmo tempo, ele não para de atacar o antecessor, a quem chama de "covarde" por ter "planejado um golpe de Estado" antes de "fugir" para os Estados Unidos no final de 2022.
Lula afirmou no sábado que é preciso defender a democracia "todos os dias daqueles que, ainda hoje, planejam a volta do autoritarismo", por ocasião do 40º aniversário do fim da última ditadura militar, que Bolsonaro evoca com nostalgia.
A.M. de Leon--LGdM