La Gaceta De Mexico - Desenvolvimento da IA não pode depender de 'caprichos' do mercado, alertam especialistas da ONU

Desenvolvimento da IA não pode depender de 'caprichos' do mercado, alertam especialistas da ONU
Desenvolvimento da IA não pode depender de 'caprichos' do mercado, alertam especialistas da ONU / foto: © AFP

Desenvolvimento da IA não pode depender de 'caprichos' do mercado, alertam especialistas da ONU

O desenvolvimento da Inteligência Artificial (IA) e os riscos associados não podem depender dos "caprichos" do mercado, alertaram nesta quinta-feira (19) especialistas da ONU, que defendem a adoção de ferramentas de cooperação internacional, mas sem chegar ao ponto de pedir um órgão regulador global.

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O secretário-geral da ONU, António Guterres, criou em outubro do ano passado o comitê de quase 40 especialistas nas áreas de tecnologia, direito e proteção dos dados pessoais, procedentes do mundo acadêmico, dos governos e do setor privado, incluindo empresas como Microsoft, Google-Alphabet ou OpenAI.

O relatório final, publicado a poucos dias da "Cúpula do Futuro" que acontecerá em Nova York, constata a "falta de governança mundial da IA" e a exclusão dos países em desenvolvimento das discussões sobre esta questão conjuntural.

Dos 193 Estados-membros da ONU, apenas sete integram as principais iniciativas relacionadas com a IA (no âmbito da OCDE, do G20 e do Conselho da Europa), e 118 estão completamente ausentes.

No entanto, a natureza "transfronteiriça" destas tecnologias "exige uma abordagem global", insistem os especialistas.

"A IA deve servir a humanidade de forma equitativa e segura", reiterou Guterres esta semana. "Se não forem controlados, os perigos representados pela Inteligência Artificial podem ter graves implicações para a democracia, a paz e a estabilidade", completou.

- Cooperação mundial -

Neste cenário, o comitê de especialistas pede aos Estados-membros da ONU que estabeleçam ferramentas para melhorar a cooperação mundial no tema, encorajar o progresso da humanidade e evitar abusos.

"Ninguém pode prever atualmente a evolução destas tecnologias" e aqueles que tomam as decisões não são responsabilizados pelo desenvolvimento e utilização de sistemas "que não compreende", afirma o comitê.

Nestas circunstâncias, "o desenvolvimento, a implantação e a utilização destas tecnologias não podem depender apenas dos caprichos do mercado", alertam os especialistas, antes de apontar o papel "crucial" que deve ser desempenhado pelos governos e organizações regionais.

Entre as conclusões, o comitê sugere a criação de um grupo internacional de especialistas científicos em IA, inspirado no modelo de especialistas da ONU para o clima (IPCC), cujos relatórios são uma referência para a descrição do aquecimento global, seu impacto e as soluções para mitigar o problema.

Os cientistas atuariam como assessores da comunidade internacional sobre os riscos emergentes, os setores em que as pesquisas são mais necessárias e também poderiam identificar como algumas tecnologias poderiam ajudar a cumprir os objetivos de desenvolvimento sustentável (eliminação da fome e da pobreza, igualdade de gênero ou o clima, entre outros).

A ideia é parte do projeto Pacto Digital Mundial, que está sendo discutido e que analistas esperam que seja adotado no próximo domingo, durante a "Cúpula do Futuro" na ONU.

Os especialistas sugerem ainda o início de um diálogo político intergovernamental regular sobre o tema e a criação de um fundo para ajudar os países mais atrasados.

- Evitar as surpresas -

Tudo isto em uma estrutura pequena na própria secretaria da ONU, sugere o comitê.

Os especialistas, no entanto, não desejam a criação de uma entidade de governança internacional como a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), como já sugeriu Guterres, a menos que os riscos se tornem "mais graves e mais concentrados".

Neste caso, "pode ser necessário que os Estados criem uma instituição internacional com poderes de vigilância, alerta, verificação e aplicação", acrescentam.

Em um setor que evolui rapidamente, os especialistas identificam vários perigos da IA, que incluem a desinformação que ameaça as democracias, os "deepfakes" (vídeos falsos) mais pessoais, em particular os sexuais, as violações dos direitos humanos, as armas autônomas e a sua utilização por grupos criminosos ou terroristas.

"Dada a velocidade, autonomia e opacidade dos sistemas de IA, esperar que uma ameaça surja pode significar que já é tarde demais para responder", admitem. O comitê defende uma avaliação científica constante e intercâmbios políticos para que "o mundo não seja tomado de surpresa".

U.Romero--LGdM